O stress oxidativo, provocado por químicos ou por alterações na dieta, pode resultar numa redução de 90% do número de parasitas.
Uma equipa de investigadores do Instituto de Medicina Molecular de Lisboa, liderada pela investigadora Maria Manuel Mota, descobriu que a suscetibilidade à malária da pessoa infetada se reduz drasticamente através da manipulação do metabolismo relacionado com o stress oxidativo, que pode ser provocado por fármacos ou alterações na dieta.
A forma como a doença progride não está apenas relacionada com as características do agente infecioso, sendo que as características genéticas do hospedeiro, ou pessoa infetada, também desempenham um papel fundamental nesse processo, permitindo controlar de forma mais ou menos eficiente esse mesmo agente.
Além disso, há também quem defenda que os hábitos alimentares podem também exercer algum tipo de influência no progresso da infeção.
Assim, a equipa de cientistas manipulou a dieta de cobaias de laboratório por períodos curtos de tempo (quatro dias), avaliando seguidamente o nível de infecção causado pelo parasita da malária.
A investigação, publicada na revista ‘Nature Microbiology’, mostra que o aumento dos níveis de pró-oxidantes, os químicos que induzem stress oxidativo, causado por alterações na dieta resultam numa redução de 90% da carga parasitária durante a fase da infecção no fígado e, portanto, na diminuição da severidade da doença.
Os alimentos oxidantes são ricos em gorduras ou têm muitos açúcares e o mecanismo usado pelo hospedeiro para eliminar o parasita da malária, agora descoberto, poderá contribuir para explicar como certas alterações genéticas, associadas a níveis elevados de stress oxidativo, foram resultado de um processo de selecção natural nas populações, por conferirem um elevado nível de protecção contra a malária.
Duas outras doenças sanguíneas fazem também parte das alterações genéticas associadas ao nível de stress oxidativo: a anemia falciforme, e a beta talassémia.
A anemia falciforme, doença hereditária caracterizada pela produção anormal de hemoglobinas, causa uma deficiência no transporte de oxigénio e gás carbónico, e a beta talassémia, doença hereditária caracterizada por redução da taxa de síntese da cadeia beta, uma das cadeias de globina – família de proteínas capazes de transportar oxigénio e outros gases – que formam a hemoglobina, resultando em sintomas de anemia.
“Encontrámos um novo mecanismo para matar com facilidade o parasita da malária, o Plasmodium falciparum, que vem de uma resposta inflamatória do organismo do hospedeiro. Ao mesmo tempo, verificámos que há grupos de pessoas com características genéticas que têm uma resposta pró-oxidativa fortíssima na fase sanguínea da doença”, explica Maria Mota.
A investigadora reconhece que a sua equipa “pode ter arranjado um explicação para o facto de haver grupos de população humana com muito menos casos de malária, além do grupo com problemas genéticos como a anemia falciforme ou a beta talassémia”.
Vanessa Luís, a autora correspondente do artigo, reconhece, no entanto, que “ainda não sabemos as implicações a longo prazo desta mudança na doença”.
Natural de Vila Nova de Gaia e licenciada em Biologia pela FCUP, a imunologista Maria Mota é doutorada em parasitologia molecular e investigadora principal na Unidade de Malária do Instituto de Medicina Molecular de Lisboa. Uma das reputadas cientistas portuguesas foi Prémio Pessoa em 2003.