A revista americana “Science”, surpreendeu a comunidade de investigadores ao dar o prémio de Avanço do Ano à imunoterapia contra o cancro. Há mais de cinquenta anos surgiu como uma solução mágica a ideia de curar o câncer pela estimulação do sistema imunológico dos doentes. Porém, essa frente de luta ficou em segundo plano, por falta de resultados satisfatórios. Cada descoberta teórica, cada novo estimulante do sistema imunológico sintetizado, produzia enorme esperança, que logo era frustrada pela realidade da prática médica. Nunca totalmente abandonada, a imunoterapia teimava em não ser alternativa à altura para a radioterapia e a quimioterapia.
Os editores da revista justificaram a escolha da imunoterapia exatamente pelos extraordinários resultados práticos de tratamento de tumores malignos pela estimulação do sistema imunológico. “O que era apenas um conjunto de relatos esparsos foi-se encorpando e tomando a forma de evidência científica”, escreveu a publicação sobre a cena científica em 2013, ano em que ficou célebre o caso da americana Emily “Emma” Whitehead, que em maio comemorou doze meses de remissão de uma leucemia tratada por imunoterapia. Desde a aprovação do primeiro tratamento imunoterápico, em 1997, nada de animador até então acontecera. Tudo mudou com o aumento do conhecimento. Descobriu-se que certos componentes do sistema, paradoxalmente, precisam ser inibidos. É o caso da CTLA-4, substância que impede o sistema imunológico de trabalhar sempre com carga máxima. Os melhores resultados vieram de terapias em que essa substância foi inibida, permitindo assim que o corpo se mantivesse em guerra total e permanente contra os tumores.