Cultura

Centenário do escritor que inventou o heavy metal

O escritor americano William Burroughs foi considerado o mentor da geração beat. Influenciou roqueiros de diferentes vertentes. Em 1992, tinha Burroughs 78 anos, recebeu um convite do jovem Kurt Cobain. Fã confesso do escritor, o vocalista dos Nirvana pediu que ele gravasse a leitura de um de seus contos – The “priest” they called him – e o enviasse pelo correio para ser musicado. O texto, originalmente publicado numa coletânea de contos em 1973, contava uma história de desolação e vício em drogas. Dois meses depois, Cobain juntaria à voz de Burroughs os acordes da sua guitarra. Por cima, a voz de Burroughs ficou para sempre registrada num dos vinis mais sombrios já gravados.

Burroughs não gostava de rock.  Tendo vivido a adolescência nos anos 1920, preferia ouvir blues. Mesmo assim, poucos escritores tiveram tamanha influência no universo roqueiro. Mesmo sem intenção, Burroughs influenciou nomes que vão de Cobain a David Bowie. E foi responsável pelo batismo de um subgênero do ritmo: foi ele quem criou o termo Heavy Metal. Em 83 anos, Burroughs fez amizade com Mick Jagger, apresentou-se a Patti Smith e apareceu na capa de um dos discos dos Beatles. Viciado em ópio durante grande parte da sua vida, enveredou-se pelos subterrâneos de Nova Iorque, onde trabalhou como traficante por um tempo. Matou a mulher por acidente, com um tiro na testa.

Se estivesse vivo, teria completado 100 anos quarta-feira, dia 5 de fevereiro. O seu centenário será celebrado com exposições e mostras organizadas em todo o mundo.

Nos finais dos anos 1950, ele, Jack Kerouac, Allan Ginsberg entre outros nomes, renovaram a literatura, lançando as bases da contracultura que se desenvolveria na década seguinte. Dessa produção, “On the road”, de Jack Kerouac, tornou-se a obra mais conhecida, onde relata as viagens de Kerouac pela América. O livro chegou aos cinemas em 2012, sob direção de Walter Salles.

A sua principal obra, “Almoço nu”, conta a história de William Lee, um viciado que envereda pelo submundo decadente dos Estados Unidos e de Tanger. O livro foi escrito pelo método do cut-up. As frases eram cortadas e rearranjadas de maneira diferente da sua ordem original, tal como uma colagem surrealista.