A obra integral de Cesário Verde, pela primeira vez fixada, com a produção poética revista e ordenada, a biografia organizada e a correspondência anotada, pelo catedrático Ricardo Daunt, é apresentada em Lisboa, noticia a “Lusa”.
A obra é apresentada na quarta-feira às 18h30 na FNAC do Vasco da Gama, em Lisboa, por Ricardo Daunt, catedrático da Universidade de S. Paulo, e pela professora da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, Annabela Rita, anunciou a Embaixada do Brasil.
A “Obra Poética Integral de Cesário Verde” foi “revista e ordenada, de acordo com a semelhança formal e temática dos poemas publicados em vida, a biografia organizada cronologicamente e toda a correspondência acompanhada por notas elucidativas”, afirma em comunicado a editora DinaLivro, que chancela a obra.
Na introdução, Ricardo Daunt afirma que o poeta português “supera o impasse do modelo realista, para criar uma poesia que não se contenta em permanecer no interior da cápsula do real”.
Defende o investigador brasileiro que a obra de Cesário “está congestionada pelo seu tempo, tanto em relação a assuntos que a interessam, como pela forma de os tratar”.
“A originalidade maior talvez resida no facto de ter conseguido reinterpretar, combinar, refundir e caldear os programas de arte da época, de tal forma que a sua produção poética traduz a crise, a crítica e a ultrapassagem dos modelos” de beleza e da sua percepção, defendidos pelos programas de arte da época, como argumenta Daunt que investigou a obra do autor de “O sentimento dum Ocidental”.
Na introdução o catedrático da Universidade de S. Paulo lembra que o autor viveu “o fluxo e refluxo do Romantismo”, fustigando, “a princípio, a reacção satânico-católica de Baudelaire a esse mesmo Romantismo (cerne de todos os ismos até ao final do século XIX)”, recolhendo, “posteriormente, ou diria melhor, simultaneamente, o impacto renovador do Impressionismo nas artes plásticas”, e acabando por antever “o Expressionismo da viragem do século”.
“Cesário emprestará, sobretudo nos seus poemas da maturidade, como ‘Num bairro moderno’, o ponto de vista de um observador transeunte que se exprime através de um lirismo anti-declamatório, embora envolvido pela atmosfera do que procura captar”, argumenta Ricardo Daunt, que também é poeta.
A obra de Cesário, escreve o especialista brasileiro, “atesta a presença de um sujeito lírico que deambula pelo mundo urbano da civilização industrial, capturando os variados recortes físicos e os múltiplos estímulos sensoriais da cidade labiríntica”, que é Lisboa.
Cesário Verde (1955-1886), autor que Fernando Pessoa considera “mestre”, foi o precursor da modernidade na poesia portuguesa. O autor começou a publicar versos em 1875, em jornais e revistas, e morreu sem ter reunido toda a sua poesia num livro. Esta veio a ser reunida em 1887, por Silva Pinto, mas a obra ficou dispersa, sendo agora reunida e organizada de acordo com critérios literários.