A Companhia João Garcia Miguel apresenta hoje, no Teatro Municipal Joaquim Benite (TMJB), em Almada, a peça “Os negros e os deuses do norte”, a quarta estreia na 31.ª edição do Festival de Almada, iniciado a 4 de julho.
A peça assinala o regresso de João Garcia Miguel, que também a encena, à escrita, e tem como pano de fundo uma figura da lei romana intitulada “Homo sacer”, um ser banido de qualquer direito civil, que qualquer um podia matar, mas que jamais podia ser sacrificado em rituais religiosos, disse o encenador à agência “Lusa”.
“É uma peça sobre uma visão mediterrânica de olhar o mundo, que fala de um outro ser que vive dentro de nós, que é um criador, um desregulador, que chega atrasado, gosta de dormir, de estar com a família”, acrescentou.
É uma peça na qual “se assume o nosso lado sul, o lado do sonho, da magia e também da autodestruição, sem, contudo, deixar de lembrar que todos temos também um lado norte, um lado regrado, um lado mais frio, mais racional”, frisou.
“Os negros e os deuses do norte” baseia-se em textos dos escritores Dostoievsky e Simone de Beauvoir, e dos filósofos Nietzsche e Giorgio Agamben, o único autor vivo, dos quatro, que se tornou conhecido pelos trabalhos sobre o estado de exceção e o “Homo sacer”.
Jim Morrison, Patti Smith e José Afonso foram os músicos que inspiraram as composições originais de Gil Dionísio e Lula’s, assim como a protagonista e única intérprete da peça, Sara Ribeiro, afirmou João Garcia Miguel.
A peça que se estreia agora no Festival de Almada dá continuidade a uma trilogia iniciada com “Yerma”, do dramaturgo espanhol Federico García Lorca, e será encerrada com “A vida é sonho”, do também espanhol Calderón de la Barca, que tem estreia marcada para 7 de janeiro de 2015, no Teatro Nacional de S. João, no Porto.
Com figurinos de Miguel Moreira e vídeo e fotografia de Miguel Lopes, “Os negros e os deuses do norte” tem novas representações na terça e na quarta-feiras, às 21:30 e às 19:30, respetivamente, na sala experimental do TMJB.
A programação da 31.ª edição do Festival de Almada, a decorrer até ao próximo dia 18, em 12 espaços de Almada e Lisboa, conta com 23 peças de teatro, além de iniciativas paralelas como espetáculos de rua, colóquios, concertos, sessões de cinema e tertúlias, num total de 139 sessões.