Cientistas anunciaram que possuem evidências estatísticas para apoiar uma nova teoria de que a infecção pelo vírus da sida pode reduzir o risco de esclerose múltipla (EM).
Os investigadores descobriram que seropositivos ingleses são estatisticamente menos propensos a desenvolver a EM do que a população em geral.
Se trabalhos posteriores confirmarem este vínculo, este poderá ser um grande avanço no combate à esclerose múltipla, escreveram os cientistas no “Journal of Neurology”.
A esclerose múltipla é uma doença degenerativa que afeta o cérebro e o sistema nervoso central, no qual o próprio sistema imunológico começa a atacar o revestimento de gordura isolante em volta das fibras nervosas.
Os sintomas variam de torpor e formigueiro a fadiga muscular e espasmos, cãibras, náusea, depressão e perda de memória.
Em 2011, médicos reportaram o caso de um homem australiano de 26 anos, diagnosticado com EM alguns meses depois de ter a infecção por HIV confirmada.
Os sintomas da esclerose desapareceram completamente depois de o paciente ter começado a tomar medicamentos anti-HIV e manteve a medicação durante os 12 anos seguintes em que a sua saúde foi monitorizada.
Esta pesquisa seguiu-se a um estudo dinamarquês, que tentou verificar se medicamentos anti-retrovirais podem tratar ou retardar o avanço da EM, mas o tamanho da amostra era demasiado pequena para se chegar a uma conclusão sólida.
No estudo mais recente, uma equipa australiana liderada por Julian Gold, professor do Hospital Príncipe de Gales, em Sydney, analisou um banco de dados britânico, descrevendo detalhes do tratamento hospitalar em Inglaterra entre 1999 e 2011.
Durante esse período, mais de 21 mil pessoas que foram tratadas no hospital tinham HIV. Elas foram comparadas com um grupo de cerca de 5,3 milhões de pessoas que não tinham HIV e foram tratadas de problemas menos graves e ferimentos.
No grupo dos seropositivos, apenas sete pessoas desenvolveram EM nos anos seguintes, muito menos que os 18 esperados, o que representou uma redução de risco de quase dois terços.
Os autores admitiram a fragilidade do seu estudo, uma vez que não tinham ideia, por exemplo, se os pacientes com HIV tomaram medicação anti-retroviral para suprimir o vírus.
Eles especulam que a EM pode ter abrandado porque o sistema imunológico é recolocado no controlo, embora novos trabalhos sejam necessários para demonstrar se o benefício inesperado se deve ao vírus ou à medicação usada para combatê-lo.