O Museu do Brinquedo de Sintra encerra portas no próximo domingo, apesar de a câmara continuar disposta a negociar a sua permanência na vila, confirmou a responsável pela vasta coleção dedicada ao “sonho” da infância.
“O museu vai fechar no dia 31 de agosto, porque nos foi apresentada uma proposta que é inaceitável para uma coleção que tem um dono”, explicou à agência “Lusa” Ana Arbués Moreira, filha do colecionador e diretora do museu onde é exposta grande parte dos mais de 60.000 brinquedos reunidos ao longo de uma vida.
A Câmara de Sintra propôs à Fundação Arbués Moreira a criação de um museu municipal com a coleção, que se mantinha propriedade da fundação, mas Ana Arbués Moreira notou que a participação numconselho consultivo não bastava para ter “controlo” na gestão dos brinquedos.
A fundação decidiu fechar o museu devido à quebra nas receitas das entradas e ao fim do subsídio da câmara de 5.000 euros mensais, desde dezembro de 2013, por determinação da legislação que regula a atividade das fundações.
“Temos tido muito mais visitantes, porque o museu vai acabar e agosto é o mês mais forte, mas nos outros anos a partir de setembro não havia quase ninguém”, adiantou a diretora do museu, em relação à afluência do último mês.
A fundação anunciou, a 15 de maio, o encerramento do museu no último dia de agosto, o que vai levar ao despedimento de sete funcionários, alguns com 17 anos de serviço.
“Penso que esta coleção não pode ficar encaixotada”, desabafou Ana Arbués Moreira, que confirmou a possibilidade de o acervo ser exposto em Lisboa, mas ainda será preciso encontrar um espaço e ver em que condições as peças podem voltar a ser exibidas.
O encerramento do museu em Sintra foi discutido na última terça-feira na reunião do executivo municipal, com o vereador independente Marco Almeida a lamentar que a câmara não tenha conseguido manter a coleção na vila.
“O que desejaríamos é que neste caso do Museu do Brinquedo a câmara tivesse sido mais proactiva”, afirmou.
Para Marco Almeida, a autarquia devia ter procurado mobilizar apoios, nomeadamente através de programas municipais e de mecenato, para manter aberto o museu.
O presidente da autarquia, Basílio Horta (PS), frisou na reunião que a lei impede a câmara de apoiar uma entidade privada e que não houve da parte da fundação qualquer contraproposta aos termos apresentados pela autarquia.
O autarca garantiu que “tinha gosto” que o museu continuasse em Sintra, mas integrado na rede de museus do município, tal como acontece com outras doações.
“Se a família Arbués Moreira quer fazer outra coisa dos brinquedos, quer ir para Lisboa, quer vender, seja o que for, o problema ultrapassa-nos”, afirmou Basílio Horta, notando que a câmara sempre apoiou a fundação enquanto foi possível.
O presidente da câmara assegurou que, se a fundação “mudar de ideias e quiser voltar atrás” na decisão, “as portas estão abertas” para se procurar uma solução.
“Não fechamos porta nenhuma à família Arbués Moreira”, desde que não implique meios financeiros que a autarquia ficou impedida de conceder, reiterou Basílio Horta.
A vasta coleção de brinquedos, que representa a História da Humanidade desde o século XVII à atualidade, recebeu mais de 900.000 visitantes.
“É o sonho de uma vida que agora vai ser encaixotado, vamos ver até quando”, rematou Ana Arbués Moreira.