Cientistas desenvolveram uma forma de fazer um corpo inteiro ficar transparente. Numa pesquisa publicada na revista “Cell”, a equipa, que estuda roedores, descreve uma técnica que mantém os tecidos intactos, mas permite que as partes-chave do corpo e ligações internas possam ser vistas.
Os cientistas dizem que a técnica pode ajudar a visualizar como órgãos separados interagem e apontar o caminho para uma nova geração de tratamentos. O método também pode ser utilizado para detectar a propagação de vírus e cancros em tecidos humanos.
Há um século os cientistas têm estado a tentar elevar a transparência de órgãos opacos. Mas a maioria das técnicas danificava tecidos, o que interrompeu testes mais aprofundados.
As moléculas de lipídio (gordura) presentes nas células do corpo distorcem os raios de luz, o que deixa os tecidos opacos. Até hoje, os processos usados para dissolver essas moléculas privavam os órgãos de elemento-chave para o seu suporte estrutural, o que resultava numa massa amorfa de material.
Agora, pesquisadores do Instituto de Tecnologia da Califórnia dizem ter conseguido atingir o sonho dos biólogos.
Com base em trabalhos anteriores a equipa desenvolveu uma técnica com três estágios. Primeiro, uma malha macia feita de uma espécie de plástico dá suporte para os tecidos. Em seguida, um detergente molecular é administrado na corrente sanguínea, dissolvendo lipídios e tornando os órgãos transparentes. Corantes de rastreamento e de marcação de moléculas específicas podem ser adicionados à infusão para destacar as conexões mais importantes.
Usando este método em roedores, os pesquisadores conseguiram tornar rins inteiros, corações, pulmões e intestinos transparentes dentro de três dias, e todo o corpo dentro de duas semanas.
O teste do procedimento em pacientes com cancro permitiu que os cientistas visualizassem o alcance da disseminação da doença.
A pesquisa foi realizada em ratos sacrificados e amostras de tecido humano tiradas durante operações, mas ainda não foi aplicada a organismos vivos.
Os cientistas afirmam que a técnica pode ter diversos usos futuros, desde o mapeamento do caminho de fibras nervosas do cérebro para o resto do corpo ao rastreamento dos locais onde diferentes vírus se escondem nos tecidos.
A equipa, agora, está a colaborar com outros cientistas para examinar o tecido cerebral de pessoas com deficiências cognitivas. Ao comparar essas amostras com outras saudáveis, os cientistas querem identificar diferenças nunca antes vistas nos padrões celulares.