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Burlão cumprimentou o rei e dá que falar em Espanha

Francisco Nicolás Gómez-Iglesias, tem 20 anos, e está a dar que falar em Espanha. Ninguém sabe explicar de onde vem ou quem são os seus amigos, mas este jovem espanhol movimentava-se livremente no círculo do PP. Apresentava-se sempre bem vestido e bem-falante e talvez por isso ninguém tenha desconfiado. Dizia-se tão bem relacionado com o poder espanhol que até conseguiu estar presente na coroação de Felipe VI e apertar-lhe a mão. Durante cinco anos, enganou toda a gente. Na terça-feira passada foi detido pela polícia por suspeitas de falsificação, usurpação de funções púbicas e esquemas fraudulentos.

O jovem sonhava ser famoso e, para realizar esse desejo, colecionou fotos onde aparecia ao lado de figuras como o ex-primeiro-ministro José María Aznar, a autarca de Madrid, Ana Botella, a antiga presidente da Comunidade de Madrid, Esperanza Aguirre, ou até mesmo, como já foi dito, a cumprimentar Felipe VI no momento da proclamação como rei de Espanha, à qual assistiu. Assistiu também a jogos na bancada VIP no estádio do Real Madrid ou no do rival Atlético, ao lado de Radamel Falcao, quando este ainda jogava no clube espanhol. Facto que levou o jornal “Las Provincias” a classifica-lo como um “mestre a tirar fotografias com gente importante”.

Frankie, como o tratam os amigos, apresentava-se a quem ia conhecendo como alguém que ocupava um alto cargo numa qualquer instituição, fosse como assessor do Gabinete Económico do Palácio da Moncloa (a sede da Presidência do Governo de Espanha e a residência oficial do primeiro-ministro), dirigente do Partido Popular, ou representante das direções da Guarda Civil ou agente dos serviços secretos. Fê-lo sempre sem apresentar qualquer documentação.

Ao que tudo indica, as suspeitas começaram a surgir quando Francisco Iglesias começou a pedir dinheiro a terceiros para mediar a concessão de licenças. Um caso de burla concreta tem que ver com o pagamento exigido a um homem a quem pediu 25 mil euros, quando se fazia passar por assessor da vice-presidente do governo, para mediar a venda de um imóvel em Toledo.

Nas buscas domiciliárias, a polícia encontrou relatórios falsificados do Centro Nacional de Inteligência (do qual também disse ser agente), autorizações para veículos de acesso à residência oficial do primeiro-ministro, entre outros artigos falsificados.

Filho de uma família da classe média e neto de militares, a estudar no Colégio Universitário de Estudos Financeiros de Madrid, Francisco Iglesias começou a frequentar aos 15 anos a delegação do PP em Chamartin. Fazia-se transportar em carros de alta cilindrada, às vezes até com motorista, “aos quais acrescentava um farol de luz semelhante aos usados pelas forças de segurança”, relata a imprensa espanhola.

A 17 de Outubro, em audiência perante a juíza, o jovem foi interrogado durante sete horas. A magistrada responsável pelo processo que agora lhe foi instaurado não escondeu a sua surpresa quando foram apresentados os factos. Mercedes Barrios afirmou “não compreender como um jovem de 20 anos, apenas com o seu palavreado e aparentemente com a sua própria identidade pôde aceder a conferências, lugares e atos sem alertar ninguém desde o início desta sua conduta”.

Agora, Francisco Nicolás Gómez-Iglesias aguarda julgamento em liberdade.

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