Saúde & bem-estar

Cancro do pulmão pode ficar “ocultado” durante 20 anos

O cancro do pulmão pode ficar “adormecido” durante mais de 20 anos antes de se tornar mortal, afirmaram cientistas, o que pode ajudar a explicar por que é que uma doença que mata mais de 1,5 milhões de pessoas por ano em todo o mundo é tão persistente e difícil de tratar.

Duas revistas especializadas que detalham a evolução do cancro do pulmão revelam como, após uma falha genética causadora da doença “muitas vezes devida ao tabaco”, as células do tumor desenvolvem numerosas novas mutações silenciosamente, tornando partes diferentes do mesmo tumor geneticamente únicas.

Quando os pacientes ficam doentes o bastante para serem diagnosticados com o cancro, os seus tumores terão percorrido diversas fases evolucionárias, fazendo com que seja extremamente difícil que qualquer medicamento específico surta efeito.

As descobertas mostram a necessidade premente de detectar o cancro do pulmão antes que este se tenha transmutado em múltiplos clones malignos.

“O que não tínhamos conseguido entender antes é por que este é o imperador de todos os tipos de cancro e uma das doenças mais duras de tratar”, disse Charles Swanton, autor de uma das monografias do Instituto de Pesquisa de Londres da instituição de caridade Pesquisa do Cancro da Grã-Bretanha.

“Anteriormente, não sabíamos o quão heterogéneos estes tipos de cancro do pulmão em estágio inicial eram”, acrescentou.

O cancro do pulmão é o mais fatal do mundo, matando umas estimadas 4.300 pessoas por dia, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). Cerca de 85% dos pacientes têm cancro do pulmão de células não-pequenas (NSCLC, na sigla em inglês), o tipo analisado nos dois estudos.

Para chegar a uma compreensão plena da doença, os dois grupos de cientistas britânicos e norte-americanos analisaram a variabilidade genética em diferentes regiões dos tumores pulmonares removidos em cirurgias e desvendaram como as falhas genéticas haviam desenvolvido ao longo do tempo.

O que descobriram foi um período de latência extremamente alto entre as mutações iniciais e os sintomas clínicos, que acabaram por surgir depois de falhas novas e adicionais terem desencadeado o crescimento acelerado da doença.
No caso de alguns ex-fumadores, as falhas genéticas iniciais que despertaram o cancro remontavam a um consumo de cigarros de há duas décadas. Mas estas falhas tornaram-se menos importantes ao longo do tempo, e mutações mais recentes foram causadas por um novo processo controlado por uma proteína chamada APOBEC.

A pesquisa foi publicada na revista científica “Science”.

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