Cultura

Milan Kundera regressa à ficção ao fim de 14 anos

O novo romance de Milan Kundera, “A Festa da Insignificância”, é editado na próxima terça-feira, colocando fim a 14 anos sem a publicação de qualquer novo título de ficção, anunciou hoje a editora.

O romance foi traduzido pela escritora Inês Pedrosa, a partir do francês, língua em que Kundera o escreveu. Nascido na ex-Checoslováquia há 85 anos, Kundera fixou-se em França, como exilado, em 1975, tendo adquirido a nacionalidade francesa em 1981, e tem optado pela língua de Molière e de Balzac desde “A Lentidão” (“La Lenteur”), publicado em 1989.

“A Identidade” (“L’Identité”), de 1998, e “Ignorância” (“L’Ignorance”), de 2000, são outros romances redigidos originalmente em francês, à semelhança dos volumes de ensaio “A cortina” (“Le Rideau”, 2005) e “Um encontro” (“Une rencontre”, 2009).

“Jacques e o seu amo”, “A valsa do adeus”, “A vida não é aqui”, “O livro do riso e do esquecimento”, “O livro dos amores risíveis” são outros títulos do autor de “A insustentável leveza do ser”, que não publicava ficção desde 2000, altura em que saiu “A Ignorância”.

“Os que conhecem os livros anteriores de Milan Kundera sabem que a intenção de incorporar uma parte do ‘não-sério’ num romance não é de todo inesperada”, afirmam em comunicado as Publicações D. Quixote, referindo “A Imortalidade”, em que os escritores Goethe e Hemingway passeiam juntos por vários capítulos, conversando e divertindo-se, e “A Lentidão”, editado em Portugal em 1995, em que “Vera, a mulher do autor, diz a seu marido: ‘Sempre disseste que um dia querias escrever um romance em que nenhuma palavra fosse a sério… Só quero avisar-te: cuidado, os teus inimigos esperam-te'”, lê-se no mesmo comunicado.

Segundo a mesma fonte, Milan Kundera procura “lançar luz sobre os problemas mais sérios e, ao mesmo tempo, não proferir uma única frase séria, estar fascinado pela realidade do mundo atual e, ao mesmo tempo, evitar qualquer realismo”.

Um romance, prossegue a editora, “em que o autor coloca em cena quatro amigos parisienses que vivem numa deriva inócua, característica de uma existência contemporânea esvaziada de sentido”.

Kundera, durante o regime comunista de Praga, foi perseguido e foi prescrito, tendo as suas obras sido proibidas. Foi expulso em 1950 do então Partido Comunista checoslovaco, ao qual aderira em 1948, ano em que o chamado “golpe de Praga” deixou o país sob controlo da antiga União Soviética, que se prolongou até ao final da década de 1980.

Em 1955, Kundera publicou a antologia poética “O último maio”, em homenagem ao líder da resistência anticomunista, Julius Fucík, ao qual se seguiram “Monólogos” (1957).

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