A acne afeta a vida de muitas adolescentes, enquanto a endometriose interfere com a vida reprodutiva de mulheres adultas. Um estudo americano mostra que existe uma associação entre a acne grave na adolescência e a endometriose.
A endometriose é uma doença crónica caracterizada pela presença de endométrio, a camada mais interna do útero, fora da cavidade uterina. A condição afecta 10% das mulheres e é a terceira principal causa de internação ginecológica nos EUA.
A endometriose resulta em infertilidade, dor pélvica crónica e dor nas relações sexuais. Alguns destes sintomas não se manifestarão até à adolescência, e algumas pacientes permanecem assintomáticas durante vários anos. O diagnóstico é muitas vezes tardio, com um intervalo de 6 a 12 anos a partir dos sintomas iniciais. Não se sabe exactamente a causa do problema, embora se conheçam factores de risco, como, por exemplo, a história familiar.
Um estudo liderado por cientistas de Harvard, em Boston, procurou avaliar se existe uma relação entre acne grave em adolescentes e endometriose. Os autores da pesquisa usaram dados de um conhecido estudo prospetivo, “Nurses Health Study I”, com enfermeiras americanas, no período de 1989 a 2009. Os cientistas usaram dados de mais de 88.000 enfermeiras, todas com idades entre 25 a 42 anos de idade.
Entre as participantes 8.5% referiram ter tido um quadro grave de acne quando jovens. E, ao longo do estudo, um total de 4.382 casos de endometriose por laparoscopia foram confirmados. Na comparação com as mulheres sem história de acne grave na adolescência, as mulheres que tiveram acne grave tinham um risco 20% maior de endometriose. E este risco não se modificou após o controlo de diversas variáveis, incluindo o tratamento com medicamentos contra a acne.
Para explicar este achado surpreendente os autores recorreram à explicação genética. A hipótese de que a acne grave em adolescente está associada a um aumento do risco de endometriose baseia-se no facto de que ambas as doenças de carácter hereditário têm traços genéticos localizados proximamente numa região do cromossoma 8q24.
Mas eles também não descartam a explicação hormonal como a influência do estrogénio. A serem confirmados estes resultados, a proposta é considerar a acne grave, em adolescentes, como um biomarcador capaz de ajudar na prevenção e detecção precoce da endometriose.