Existem profissões que, além de trazerem benefícios financeiros ou espirituais imediatos, acabam por deixar um legado igualmente estimulante após a reforma. É o que indica uma pesquisa recente da Universidade Heriot-Watt, de Edimburgo, na Escócia. Determinadas carreiras, pela sua complexidade, ajudam as pessoas a fortalecerem a sua memória para o resto da vida.
O estudo, que examinou mais de mil escoceses de 70 anos, sugere que aqueles que desempenharam profissões mais exigentes tiveram melhores resultados em provas mentais que avaliam a sua capacidade de retenção de informações.
Os participantes do estudo passaram por testes sobre a sua memória de dados, velocidade de processamento de informações e habilidade mental, além de preencherem formulários que descreviam as suas actividades profissionais.
A análise dos resultados mostra que as pessoas que trabalharam como advogados, designers gráficos, gerentes, negociadores, processadores de dados, instrutores e professores obtiveram resultados melhores nas avaliações de memória.
Já os piores resultados corresponderam àqueles que assumiram postos como os de operário, encadernador ou que se dedicaram a actividades têxteis.
A teoria sugere que quanto mais estimulante for o ambiente de trabalho, melhores serão as condições para construir uma “reserva cognitiva” que ajude o cérebro a diminuir os efeitos que vêm com o passar dos anos.
Os investigadores estudaram os resultados de provas realizadas pelos mesmos entrevistados em 1947, quando estes tinham 11 anos de idade. Assim, perceberam a associação entre ter um trabalho estimulante e conservar boa habilidade cognitiva durante a reforma.
“Os resultados ajudaram a identificar os tipos de exigências profissionais que ajudam a preservar a memória e as habilidades mentais”, referiu Alan Gow, que liderou a pesquisa.
O médico afirmou que a avaliação do coeficiente intelectual das pessoas aos 11 anos de idade explica 50% das mudanças na habilidade de pensamento que acontecem com o envelhecimento. “Isso quer dizer que é um facto que as pessoas com habilidades cognitivas mais altas tendem a trabalhar em profissões complexas. Mas também mostra que trabalhar em ofícios como estes melhora as habilidades mentais”, acrescentou.
Ainda que o estudo não aborde razões biológicas que mostrem por quê certos trabalhos protegem o cérebro, este traz explicações possíveis sobre como reduzir os danos produzidos com o passar do tempo.
De acordo com Simon Ridley, chefe de investigação e do Alzheimer’s Research, no Reino Unido, este estudo traz mais evidências sobre os factores que afetam o cérebro quando envelhecemos: “Manter o cérebro ativo ao longo da vida é muito útil, assim como ter diferentes trabalhos também têm um papel importante na habilidade mental das pessoas”.
Para Ridley, no entanto, o estudo lança mais evidências sobre a associação entre trabalho e capacidade cognitiva após a reforma do que sobre os efeitos das profissões sobre as pessoas. Neste sentido, a equipa de pesquisa pretende dedicar-se a investigar como o estilo de vida e a interação no ambiente de trabalho podem influenciar na memória.