O mundo civilizado voltou a ter notícias do terrorismo internacional. Com efeito, em Sidney, na longínqua Austrália, um homem armado sequestrou um número indeterminado de pessoas (quinze, segundo a imprensa, menos de trinta, segundo a polícia), num café da célebre marca de chocolates suíços Lindt, situado mesmo em frente aos estúdios de um dos canais de televisão do país.
O autor de tão repugnante acto, ao escolher aquele local, garantia assim espectáculo certo, com difusão apropriada, ou não estivessemos nós numa maravilhosa aldeia global. As vítimas, tal como eu as vi através da reportagem de um canal de televisão, podiam ser observadas em tempo real, com as mãos no ar, frente às vitrinas, e uma comentadora de serviço a tratar o terrorista por combatente islâmico, o que revela, só por si, a mais descarada das indecências, já que um combatente é um guerreiro e não um assassino. E para que o espectáculo fosse bem colorido nem sequer faltou a célebre bandeira negra que ultimamente tem corrido mundo a mostrar e a prometer a todos nós, miseráveis infiéis, que «só Alá é deus e Maomé o seu profeta». E para que ao terror nada falte, tudo isto se passa numa artéria das mais concorridas da baixa de Sidney (Martin Place), com o Banco Central e a famosa Ópera por perto, e com as pessoas ocupadas a fazer compras de Natal.
Mesmo que tudo acabe em bem, a simbologia que se encontra associada ao acontecimento fala inteiramente por si, o que demonstra que Man Haron Monis, o autor da proeza, um iraniano refugiado desde 1996 na Austrália, e autoproclamado xeque, conseguiu o que pretendia: mostrar que ninguém está seguro, em parte nenhuma, e dando provas da maior cobardia, os alvos que escolheu foram civis, pois dos militares, ele e esses xeques de trazer por casa têm medo. Eis porque se impõe fazer uma clara distinção entre o que é um combatente e o que significa um assassino.
Exemplos não faltam, bastando recordar o que se passa na Líbia, actual centro do terrorismo em África, sem esquecer o Egipto, país em que os militares, em boa hora, tiveram a coragem de pôr cobro aos desmandos da irmandade muçulmana de Morsi. Outro caso é a Tunísia onde, talvez muito em breve, o povo mande Marzouki colher jasmins no seu jardim.
Evidentemente que tudo o que está a acontecer no mundo tem um rosto e esse rosto não é ainda visto pelo homem comum com a clareza que se impõe. De facto, cada vez mais impreparado culturalmente, não obstante os inúmeros diplomas em analfabetismo que possui, esse tal homem comum não se tem apercebido de que os intermináveis diálogos que lhe são apresentados como forma de evitar conflitos só têm criado conflitos bem maiores e sem solução. Veja-se, por exemplo, o que está a acontecer na Síria e numa parte do Iraque, onde a guerra travada contra o Daech caminha a passos largos para uma derrota sem apelo nem agravo do chamado Ocidente.
Acabará por não se afigurar nada estranho o que está a acontecer no mundo em matéria de terrorismo e que em Sidney teve apenas mais um dos seus tristes e perigosos episódios. Resolveu-se, embora com vitimas, mas, dentro de dias, semanas ou meses, voltará de novo, algures, em qualquer parte. Nem outra coisa se poderá esperar dos que mandam hoje, já que não souberam apagar o fogo quando, em devido tempo, foram alertados para os perigos em que todos estávamos mergulhados. Não ligaram e preferiram persistir no erro, esquecendo, imprudentemente, que quem brinca com fósforos não sai molhado, mas queimado.
*Por Dantas Rodrigues, sócio-partner da Dantas Rodrigues & Associados
