No Porto, cidade que lhe é querida, com a peça “A Língua da Sogra” – que estará em cena até ao dia 4 de Janeiro no Teatro Sá da Bandeira -, Florbela Queiroz esteve à conversa com a Move Notícias. “É muito agradável estar no Porto, porque grande parte da minha família é daqui. Venho muitas vezes cá e para além disso sou adepta do FC Porto e venho ver o futebol”, começa por dizer, acrescentando que tem memórias fantásticas da infância passada na Invicta.
A atriz, de 71 anos, começou o seu percurso na representação bem cedo, mas nem sempre foi esse o caminho que quis seguir. Durante o liceu frequentou o curso de dança clássica e teatro no Conservatório Nacional, mas a vida trocou-lhe as voltas e deu por si em cima do palco a representar. “Queria mesmo ser bailarina, só me inscrevi em teatro para ‘matar’ o tempo antes de ir para casa e porque achava que uma boa bailarina deveria ter conhecimentos de teatro”, revelou.
No entanto, aos 14 anos Amélia Rey Colaço escolheu-a para um papel na peça “As Bruxas de Salem”. Ainda hoje se lembra da estreia: “Tinha uma inconsciência, mas foi maravilhoso, pois estava rodeada de excelentes profissionais e nunca mais parei”. Dois anos depois viveu o seu primeiro grande sucesso com a peça “O pecado Mora ao Lado”, que lhe valeu um prémio da Casa de Imprensa. “Ainda hoje acho que foi uma das personagens que mais me marcou, porque foi uma peça que o Artur Miller escreveu para a Marilyn Monroe. Mas o mais importante de tudo foi a amizade que fiz com o mestre António Pedro e o que aprendi com ele”, recordou.
Depois disso fez cinema e televisão, fazendo parte do elenco de “Origens”, “Todo o Tempo do Mundo, “Passerelle”, entre muitas outras novelas e séries. Não esconde que tem saudades de trabalhar no pequeno ecrã e lamenta que “quem está à frente da televisão não admita que as pessoas tenham voz própria”. “A mesma empresa faz as novelas de todos os canais e só deixam entrar quem querem. Fui banida da televisão por falar e porque não pertenço a nenhum lobby. Só sou do FC Porto mais nada”, revelou, deixando transparecer alguma mágoa. A atriz não poupa críticas ao que se faz na ficção nacional: “Uma pessoa liga a RTP estão determinados atores, liga a SIC e são os mesmos que lá estão. Mas o que é isto? Não se pode ser rotativo? Porque é que tem que ser só aquele grupo?”.
Além disso, Florbela Queiroz critica o facto que não haver lugar para atrizes com a sua idade. “Este país não é para velhos. Há excelentes atrizes da minha geração – e não estou a incluir-me nesse grupo – que poderia fazer os papéis de avós e tias…. Mas preferem contratar uma atriz com 40 ou 50 anos para fazer papéis de 70. Não percebo isso”, desabafou.
A par da representação, Florbela Queiroz tem outra profissão há 35 anos, que a completa: é taróloga. “Quando era miúda a minha avó era operada muitas vezes e pedia-me para pôr as mãos nos locais onde tinha dores e a dor passava. Como era pequena não ligava muito a isso. Quando comecei a fazer teatro e alguém estava doente eu fazia reiki instintivo. Comecei a perceber que as coisas eram diferentes. Depois tirei cursos de tarot, meditação, relaxamento”, contou. A atriz diz que não poderia viver sem este lado espiritual que lhe permite ajudar as pessoas: “Trabalho através de um site, não dá muito dinheiro, mas dá-me a felicidade que preciso. As minhas duas profissões são de ajuda, as pessoas vêm ao teatro para se distraírem e abstraírem-se dos problemas e isso também é ajudar”. Florbela diz “conciliar muito bem” as duas áreas, uma vez que “uma não implica com a outra”.
Apesar dos 71 anos, a atriz mantém uma jovialidade invejável, graças ao espírito positivo, e não pensa na reforma: “Se eu me reformar é porque vou morrer. As árvores morrem de pé e eu hei-de morrer no palco”. Por isso, Florbela Queiroz ainda vai continuar a brindar o público com as suas atuações.
Graças ao pensamento positivo, não se deixa abalar pelos percalços da vida. Florbela vive um drama pessoal há dois anos. A artista apresentou uma queixa por maus tratos contra a nora, Marília Barros, e o filho, Manuel Queiroz, e viu-se obrigada a abandonar a sua própria casa, mudando-se para casa de uma tia. “Não quero falar sobre isso, porque o processo está a chegar ao fim. Mas é uma situação muito triste pela qual nenhuma mãe deveria de passar”, finalizou a artista, que apesar de tudo se assume “uma pessoa positiva”.
Fotos: José Gageiro