O ex-presidente da Associação dos Amigos do Coliseu do Porto, José António Barros, disse ver com preocupação e apreensão o futuro daquele equipamento cultural, considerando que seria um “absurdo” remetê-lo exclusivamente a sala de acolhimento de produções alheias.
Esta foi uma das ideias defendidas por José António Barros durante um almoço de homenagem organizado por um grupo de “admiradores e amigos” do anterior presidente da Associação dos Amigos do Coliseu do Porto, que em setembro renunciou ao cargo que ocupava há 18 anos.
“Vejo com preocupação, diria mesmo, com apreensão, o futuro do nosso Coliseu, do Coliseu do Porto”, afirmou, no discurso a que agência “Lusa” teve acesso.
De acordo com José António Barros, a recente crise reduziu a afluência dos espectadores e aumentou o risco dos produtores, “originando, em consequência, a redução do número de espetáculos apresentados”.
“Por outro lado, as diferentes condições de concorrência existentes entre estas diferentes casas, já que umas recebem apoios significativos do Estado ou da autarquia, para o seu funcionamento corrente, e outras, como é o caso do Coliseu, não recebem qualquer apoio, criaram graves distorções na ocupação e nos resultados económicos deste último”, alegou.
O ex-presidente da Associação dos Amigos do Coliseu do Porto não compreende que “a solução até agora encontrada passe pelo apoio de uma instituição de Lisboa, por mais respeitável que seja”, considerando que “é o Porto a submeter-se agora, uma vez mais, ao poder da capital”.
“Remeter o Coliseu do Porto, exclusivamente, ao papel de sala de acolhimento de produções alheias seria tão absurdo como impedir a Casa da Música de alugar a sua sala para a apresentação de espetáculos de terceiros, desde que merecedores desse palco”, comparou.
Para José António Barros “será igualmente inconcebível que o Coliseu do Porto, única sala a norte do rio Tejo com condições ideais para a apresentação das grandes óperas de repertório, deixe de continuar a coproduzir, regularmente, este género musical, tanto do agrado do público”.
Na opinião de José António Barros “qualquer forma de afastamento dos associados, dos Amigos do Coliseu do Porto, dos que saíram à rua em sua defesa quando ele esteve em risco de perder a sua identidade, hoje ainda cerca de dois mil e quinhentos, só poderá contribuir para a sua descaracterização e para a perda da sua memória”.
“A articulação redutora, sob uma capa de alegada racionalidade económica, a especialização levada ao extremo na utilização da rede de equipamentos culturais, hoje na tutela, direta ou indireta, da autarquia e do Estado, só poderão aumentar as suas dificuldades de subsistência, ou o risco da sua sobrevivência, se algum ator ou investidor económico nesta área, em defesa dos seus interesses privados, e legítimos, vier a tomar posição, nesta cidade, em algum espaço ou sala, anulando facilmente a concorrência dos outros”, alertou.
No começo de setembro, José António Barros renunciou ao cargo que ocupava há 18 anos, tendo então dado conhecimento da sua decisão na assembleia-geral da instituição.
O problema prendia-se com a falta de uma solução para o financiamento do Coliseu. Segundo José António Barros, esta sala precisa de 200 mil euros anuais para o seu funcionamento.
“Nesta situação, o Coliseu, ou tem algum apoio, ou não sobrevive”, tinha advertido José António Barros à margem da assembleia-geral anual de associados que decorreu em 6 de junho.