A minha mãe. Uma senhora de 79 anos. Teimosa. Delicada. Inspiradora. Não foi o que quis ser. Não teve sempre dias felizes. Mas está aqui, à minha frente. Trata de si, no que ainda pode tratar. Está sempre atenta. Nunca diz que não. Raramente diz que sim. Sempre foi assim. Uma mulher que se ajusta à vida. Não pede que a vida se lhe ajuste no que quer que seja. Eu não vou ser mais o mesmo quando a minha mãe me deixar. Uma parte de mim vai morrer. Estou confiante que outra parte de mim vai nascer. A minha mãe tem essa capacidade: fazer nascer.
A sua coragem pela vida é absolutamente heroica. Quando for grande quero ser como a minha mãe. A vida não tem sido meiga para ela. Mas ela é sempre meiga para a vida. Raramente a vi revoltada. Ajusta-se às coisas da vida com inteligência. A minha mãe gosta de dança, mas nunca a vi dançar. Os seus olhos, pequeninos cheios de um doce amor, olham para o movimento da dança como se a cena acontecesse dentro de si.
Tenho uma mãe admirável. Ensinou-me a resistir. A estar calado. A ouvir. A estar sozinho. A ler poesia. O meu primeiro livro de poemas foi-me dado pela minha mãe, eu era tão novo para letras. Mas ela sabia que a poesia faz bem à alma. Como o xarope faz bem à tosse. A minha mãe é assim, adivinha o que eu preciso, e sabe o que não quero. Falar com ela acalma-me. Saber que a tenho faz de mim o filho mais feliz do mundo. A minha mãe é a melhor parte de mim. Obrigado D. Margarida.