Um dirigente da Ordem dos Enfermeiros afirmou que os portugueses vão cada vez menos às urgências, mas com situações clínicas mais graves, por causa dos custos associados a uma ida aos serviços de saúde.
A denúncia partiu do presidente da secção regional do sul da Ordem dos Farmacêuticos, Alexandre Tomás, com base num levantamento efetuado por este organismo no passado mês de setembro, que analisou dados desse mês nos últimos quatro anos.
Este estudo, que será divulgado em janeiro, analisou as situações em nove unidades de saúde, das quais seis são hospitais.
“Hoje, as pessoas recorrem ao serviço de urgência numa fase mais tardia da sua situação de doença. Estamos a falar daquela população idosa, com várias patologias e doenças crónicas, e que atrasa a ida à urgência, devido a um conjunto de custos associados – não só as taxas moderadoras” – a uma ida ao serviço de urgência.
O enfermeiro alerta para as “carências financeiras” que afectam esta população e que dificultam a acessibilidade aos cuidados de saúde.
“Verificamos isso todos os dias nos serviços de urgência, mas também verificamos no âmbito dos cuidados de saúde primários. Há pessoas que estão em casa e que precisavam de cuidados domiciliários, consultas e acompanhamento de enfermeiros, mas as equipas não têm recursos para poder responder a estas necessidades”, adiantou.
Uma situação que, segundo Alexandre Tomás, não deverá mudar com o Orçamento do Estado para 2015, já aprovado, e que não contempla soluções.
O orçamento para a Saúde foi, aliás, o motivo da conferência de imprensa que hoje juntou os presidentes das secções regionais do sul das ordens dos Enfermeiros e dos Médicos.
“As expetativas são, de facto, de incapacidade do Serviço Nacional de Saúde (SNS) para responder ao que é um desafio civilizacional que é de garantia de acesso aos cuidados de saúde seguros e com qualidade”, disse Alexandre Tomás.
Também para Jaime Mendes, que preside à secção regional do sul da Ordem dos Médicos, as expectativas são “más”. “Um reforço de orçamento para a saúde de 0,6 por cento é praticamente zero”, disse à “Lusa”.
Na sua opinião, “o SNS vai continuar a ser subfinanciado e entre o que está previsto para gastar na saúde e o que se orçamenta há uma diferença de mais de 700 milhões de euros”.
“Das duas, uma: ou se aumentam as taxas moderadoras para colmatar esse défice, ou ficará para dívidas aos fornecedores”, avançou.
Jaime Neves alertou para o que acredita serem as reais intenções do governo: “Eles não têm coragem de dizer que querem acabar com o SNS, deixá-lo para os pobres e entregar aos grupos privados”.