Frontalidade e determinação são predicados indissociáveis de Eunice Maia, a quem todos conhecem apenas por Maya e os mais próximos tratam por “tia”, prova de que conquista todos aqueles que com ela têm o prazer de privar.
Com créditos firmados no mundo profissional, não só como taróloga, mas também como relações públicas e apresentadora, ela é uma mulher que se dedica a cada projeto com inegável paixão.
Professora de formação dava aulas quando se estreou nas cartas, em 1990, no jornal “Público”. “Na altura, era uma miúda e costumava andar nos corredores do jornal ‘Expresso’, onde tinha uma amiga que era secretária. Lá, sabiam que gostava de deitar cartas, por isso, quando o Vicente Jorge Silva saiu para o fundar o ‘Público’ quis ter uma coluna de astrologia e convidou-me. Profissionalizo-me e tenho a primeira coluna chamada ‘Astros na Mesa’, há 24 anos, assinada como Maia com i. Foi a única vez que assinei assim porque o cartoonista António Maia – que também colaborava com o jornal – pediu para que o meu nome fosse alterado. Foi aí que passei para Maya”, recorda a protagonista.
A coluna ainda se mantém, agora denominada “Cartas da Maya”, um nome que Eunice registou e usa como nome da empresa que dirige, “naturalmente com a anuência do jornal”. A identidade profissional com que se apresenta foi escolhida por “exclusão de partes”. Isto porque: “Morais de Carvalho é o apelido de família, mas minha família inicialmente não via muito bem e esta escolha minha, não levou muito a sério, por isso não quis usá-lo e achei que, de todos os meus nomes, Maia era aquele que ficava bem. Tem muito de isotérico, das deusas egípcias, mas foi um acaso”.
As cartas começaram a ganhar cada vez mais espaço na vida de Maya que, a certa altura, “dava aulas de manhã e consultas à tarde”. “Fazia um grande esforço até porque, a pouco e pouco, fui aparecendo na televisão. Aliás, é muito curioso, porque tudo o que sei de televisão devo ao Júlio Isidro que está agora a fazer 55 anos de carreira. Sobretudo o à-vontade que tenho no pequeno ecrã aprendi com ele num programa que ele tinha, o ‘Amigo Público’, onde eu ia semanalmente. Depois comecei a ser mais solicitada e, a certa altura, já não conseguia fazer as duas coisas. Ser professora e taróloga era impossível, então, tive que escolher “, explica, revelando grande sensatez.
No mundo em que se começa a mover, abre portas a outros desafios, a Maya organizadora de eventos, diz ela, “também por acaso”: “Festas faziam-se em casa do meu pai que era um festivaleiro e eu sempre lá estive, agora eu ser relações públicas e organizadora de eventos nasceu num jogo de futebol com convidados em que também joguei, no Norte, no aniversário do Buddha da Póvoa (de Varzim). Um dos donos, o Benito Malvar, disse que nunca tinha visto umas pernas a jogar futebol como as minhas, portanto devo essa minha faceta profissional às minhas pernas. Na altura, estavam para abrir o Buddha em Lisboa e eu jantei entre o Benito e o Juan que me pediram opiniões sobre o que eu achava da noite lisboeta e como via a movida da capital enquanto frequentadora. Eles gostaram do que ouviram, acharam-me uma miúda gira e convidaram-me para ser relações públicas do espaço em Lisboa e foi assim que comecei em 2002”.
A faceta de apresentadora despertou com um convite de Nuno Santos, na altura diretor na SIC, “que me convidou para apresentar o ‘Contacto’ com o Nuno Graciano em substituição da Rita Ferro Rodrigues. Na altura, fizemos boas audiências e saímos de lá a liderar, mas não posso achar que o programa fui eu e o Nuno. Fiz ali uma primeira incursão na apresentação onde não estava muito à-vontade e só agora, com este desafio da CMTV, é que me sinto à-vontade na apresentação”.
Na hora de mudar, “pesou a minha relação de amizade com o diretor Octávio Ribeiro, fomos colegas de faculdade e nunca lhe diria que não”, conta Maya, garantindo que nunca se arrependeu. “É uma evolução natural. Na SIC, era uma entre 40 e, embora fosse muito estimada e acarinhada, não teria uma grande margem de progressão. Na CMTV, sou a figura número um do entretenimento, além de ter aceitado o desafio histórico que é criar um canal de raiz, que ninguém faz ideia do que é, sufocante, num monstro que é a Cofina. Passámos por coisas inesquecíveis”, rebobina, numa síntese das emoções. Ao lado do “careca” Nuno Graciano forma “boa dupla” mas manhãs do canal por cabo.
Agarrar as oportunidades é algo intrínseco, até porque “um bom Sagitário gosta de um bom desafio”. “São os desafios que alegram a vida. O Sagitário tem uma seta que tem que ser disparada, não pode ficar parada, umas vezes acertamos no alvo, outras acertamos ao lado”, define Maya que não se tem dado nada mal “nas facetas mais visíveis”. O cinema é algo que lhe falta fazer e é uma pretensão declarada até “para aprender”, o que não é de estranhar, visto que já trabalhou no circo e fez teatro de revista. A estreia pode estar para breve pelas mãos do realizador Leonel Vieira que lhe quer dar “uma personagem histórica”, restando-lhe apenas aguardar.
Bem sucedida, ela sabe que o ser humano é falível, daí não acreditar que “na nossa passagem terrena consigamos ter tudo e equilibrar tudo, pois há setores na nossa vida mais privilegiados do que outros”. E, é por isso que reconhece que a sua “vida profissional tem sido melhor sucedida do que a vida pessoal”. Feliz nas escolhas tomadas, assume-as como “transitórias”. A última relação amorosa foi com o chef Eurico e “durou três meses”, não tendo apresentado qualquer outro namorado desde então, o que não significa que não tenha dado asas à paixão. “Acredito que a nossa vida tem que ficar preenchida também a nível sentimental e naturalmente sexual. As pessoas não podem esquecer que a componente sexual é importante e eu até penso que há por aí muito boa gente que anda maldisposta porque não tem esse lado bem resolvido. Portanto, preocupo-me com esse lado da minha vida, mas não tenho nenhuma relação assumida… Vou cuidando de mim!”, declara sem tabus, acrescentando que prefere “os homens do Norte, pois são mais intensos”.
Incondicional é o sentimento que a une ao filho, Vasco, de 21 anos, que “está a estudar cozinha e hotelaria” e é o grande orgulho da mãe. “Ele começou por fazer um curso de cozinha e pastelaria para acabar o secundário num curso profissional que concluiu com 17 valores. Fiquei muito feliz com isso! Depois, foi convidado para estagiar no restaurante Feitoria em Lisboa – que, como se sabe, tem uma estrela Michelin -, mas não aceitou por querer continuar a estudar. Agora está na faculdade a tirar Gestão Hoteleira e o caminho dele é mesmo a cozinha, o turismo, a hotelaria”, partilha Maya, com um brilho especial no olhar.
Com o Tarot, Maya sente que “ajuda as pessoas a orientarem a vida, a pô-las a pensar sobre as coisas”. Sem poder para alterar o rumo de certas situações, há que guiar as pessoas “a escolher aquilo que é possível e a lidar com as coisas que não podemos escolher”. No arranque de 2015, sem rodeios, antecipa meses de “polémica, dificuldades, sacrifícios, luta”. “É um ano de transição e de eleições também, portanto não será um ano fácil de certeza”, frisa, consciente do que o futuro possa trazer. Já no que respeita ao futebol, outra das suas paixões, não arrisca certezas, mas deixa a dica, lembrando que “ um benfiquista diz sempre que é o Benfica” a ganhar o campeonato nacional.
Fotos: José Gageiro