Especialistas em dor crónica alertam para o facto de haver doentes graves que faltam às terapias da dor por falta de dinheiro para os transportes e outros pedem para fazer o tratamento em horário pós-laboral com medo de perder o emprego.
“Nós temos doentes muito doentes, mas muito doentes, que são o ganha-pão da família e continuam a trabalhar até puderem para não faltarem ao trabalho”, contou à agência “Lusa” Beatriz Craveiro Lopes, diretora da Unidade da Dor do Hospital Garcia de Orta e da direção da Associação para o Desenvolvimento da Terapia da Dor.
Na Unidade da Dor do Hospital Garcia de Orta, em Almada, são traçados planos terapêuticos para cada doente, que reúnem várias técnicas para aliviar a dor, como radiofrequências, neuroestimulação, reiki, psicodrama, musicoterapia, mas nem sempre são possíveis de cumprir por falta de disponibilidade do paciente.
Muitas vezes há alguma dificuldade, não porque o doente não esteja “interessado e empenhado” em fazer o tratamento, mas porque para o fazer “tem de se ausentar das suas atividades laborais” e eles “têm imenso medo de perder o emprego”, explicou a anestesiologista.
Assim, é frequente os doentes perguntarem se é possível fazer o tratamento em horário pós-laboral, um problema que os profissionais tentam gerir, mas que é difícil porque os horários estão estabelecidos (8h00/18h30).
Também há casos de alguns doentes que faltam à consulta por falta de dinheiro para os transportes. Algumas vezes tenta-se resolver a situação através de uma consulta pelo telefone para evitar a deslocação do doente, mas nem sempre é possível, disse Beatriz Craveiro Lopes, sublinhando que “é mais uma arma para defender os doentes”.