O julgamento de Manuel Baltazar, mais conhecido por “Manuel Palito”, começou esta terça-feira, dia 10. O homem é acusado do homicídio da ex-sogra e da tia da ex-mulher e também de tentativa de homicídio da ex-mulher e da filha de ambos, a 17 de abril de 2014.
Perante a juíza do Tribunal de Viseu, “Palito”, que esteve em fuga 34 dias após os crimes, admitiu ter feito três disparos, os dois primeiros destinados a Elisa Barros e o terceiro a Maria Lina Silva. Porém, assegurou que não pretendia atingir a ex-mulher, que não soube explicar como ficou ferida, e a filha, contando que esta se atirou “para a frente da arma” provavelmente ao tentar proteger a avó.
Manuel Baltazar defendeu que foi motivado por uma provocação de Elisa Barros. O arguido relatou que naquele dia se tinha deslocado ao Tribunal de S. João da Pesqueira por ter sido notificado devido ao facto de a pulseira eletrónica que usava estar constantemente a avisar que se encontrava próximo da ex-mulher.
“Palito” tinha sido condenado, no final de 2013, por um crime de violência doméstica e estava proibido de contactar Maria Angelina Baltazar.
Nessa visita ao tribunal revelou que ficou a saber que tinha os bens penhorados. Então decidiu passar no terreno para ir buscar uma caçadeira que lá tinha, apenas com o objetivo de a guardar em casa.
Depois escolheu ir para casa por um caminho diferente do habitual para pagar a um homem que lhe tinha andado a deitar herbicida e foi então que se cruzou no caminho com Elisa Barros, que lhe disse: “O que é que este aqui anda a ladrar”.
“Aí, perdi a cabeça, fiquei descontrolado”, confessou, tendo-lhe dado um tiro quando ela entrou para o pátio da casa onde a ex-mulher, a ex-sogra e a filha estavam a fazer bolos para a Páscoa, apesar de dizer não saber que elas lá se encontravam.
O arguido confessou que pretendia matá-la, mas que está arrependido. Além disso, afirmou não ter visto a ex-mulher e nem saber de onde apareceu a filha, que lhe agarrou o cano da caçadeira. Foi depois de esta largar a arma que a atingiu, e à ex-sogra, pelas costas.
“Assim que vi que apanhei a filha, a minha cabeça ficou perdida”, acrescentou, explicando que foi embora, arrumou o carro, cortou a pulseira eletrónica e fugiu.
A juíza alertou que o que estava a contar contraria a contestação que fez, na qual está escrito que pretendia atingir também a ex-mulher, não para a matar, mas para “ofender o corpo”.
Já a acusação refere que Palito entrou num anexo da habitação e, ao ver Elisa Barros, disparou na sua direção, atingindo-a na região torácica e abdominal. Sónia Baltazar, que estava perto, também foi atingida numa mão.
Ao avistar Maria Angelina Baltazar vinda da cozinha, disparou na sua direção, atingindo-a na perna esquerda, o que levou Sónia Baltazar a dirigir-se ao pai e a agarrar o cano da arma, para evitar que continuasse.
De acordo com a acusação, Sónia Baltazar caiu ao chão e, como não largou a arma, o pai arrastou-a cerca de quatro metros. Nessa altura, surgiu Maria Lina Silva, de 85 anos, que ainda desferiu algumas pancadas com uma bengala no arguido, tendo depois Sónia largado a arma e fugido com a avó para o interior do anexo. Quando as duas já estavam de costas, a uma distância de cerca de cinco metros, Manuel Baltazar empunhou novamente a arma e disparou, atingindo a filha e a ex-sogra.
Além dos quatro crimes de homicídio qualificado (dois dos quais na forma tentada), o arguido está acusado de um crime de detenção de arma proibida e outro de violação de proibições ou interdições.
O Tribunal de Viseu já decidiu entretanto que o arguido será submetido a uma perícia à personalidade. Manuel Rodrigues, advogado de Manuel “Palito”, afirma que o homem transporta em culpa “o peso de uma bigorna” e garante que não tentou matar nem a mulher, nem a filha.