O Morfeu é o Deus grego dos sonhos. E, talvez por isso, quando Maria Jorge e o Chef Paulo abriram o Morfeu no pequenino restaurante das Condominhas estavam a cumprir um sonho.
Mas o génio que o Chef Paulo tem para a cozinha e a simpatia exuberante e contagiante da Maria, logo fidelizaram uma clientela que ali se sentia bem, porque se sentia em casa – no trato, na serventia, mas também na comida que era tão saborosa e familiar como as que as nossas avós ternamente nos serviam.
O Morfeu cresceu e o sonho que vive com ele também. E, por isso, algum anos depois encontrou uma nova casa – mais ampla, mais airosa, ali com o rio Douro a mostrar-se garboso e tranquilo no seu elegante esplendor. Passou para a Marginal do Douro , logo depois de passarmos na direcção ao Infante por baixo da altiva Ponte de Arrábida.
E ali vive com o novo nome de Morfeu na Marginal, já há um bom par de anos.
O sonho cresceu, mas não se tornou num pesadelo, como acontece em muitos casos em que temos a tentação de “mexer” nas coisas. Pelo contrário mantém-se a casa afável, familiar e de comida caseira que tantos fãs angariou nas pequenas instalações das Condominhas.
A Maria e o Chef Paulo têm dois pratos diários de belíssima substancia: À segunda-feira não perca o arroz de bacalhau seco, com pastéis de bacalhau – Eu costumo pedi-lo com um ovo estrelado porque era assim que se servia em minha casa. Em alternativa, não deixe de provar o pica no chão, feito de cabidela, com o frango tenro o arroz no seu ponto de abertura, com o sangue a envolver e a aveludar este inesquecível ícone da gastronomia minhota.
À terça para mim é uma tortura – porque o bacalhau à Brás é de cair – provavelmente o melhor do Porto. Mas nas carnes pontifica uma língua estufada com ervilhas que nos envolve numa sapidez e macieza só ao alcance de um Grandes Chef, como é o Chef Paulo.
Há quarta não podemos ter hesitações, porque o prato forte são as tripas que aqui se fazem com rigor e excelência. Há uns dias, em que o Chef Paulo, um transmontano de gema, troca as tripas por uma feijoada à transmontana. E digo-vos que um nortenho como eu volta a ficar mortalmente dividido. As duas batem-me com tal galhardia que temos muita dificuldade em optar qual a que preferimos.
Na quinta os filetes de pescada fresca com batata à inglesa são aposta séria que nunca desilude. Mas, para os mais afoitos, há uma feijoada à brasileira feita com todos os preceitos.
Às sextas a casa enche-se com uma das estrelas principais do cardápio morfiano. É o cozido à portuguesa – feito de carnes porcinas de estirpe irrepreensível, com o tempo certo do fogo, bem fatiadas a reluzirem airosas, em cima de uma cama de couve branca e galega e de uma cenoura docinha. A farinheira, o nispo, o pé de porco e a costela, são apenas algumas das delicias que fazem este cozido um prato inesquecível. Confie e apareça às sextas – o prato é tão divinal que mesmo às sextas e na Quaresma, Deus nosso Senhor perdoa-nos a falta de abstinência e, se pudesse, sentava-se connosco a repimpar-se com este cozido.
Ao sábado o cabrito assado, pequenino com a batata loura e saborosa e o grelo reluzente a acompanhar. Sem esquecer um inolvidável arroz de forno feito com os miúdos do chibo.
Ao Domingo experimente o Pato à antiga que não se arrepende.
Mas a lista não acaba aqui e se tiver hesitações, peça o polvo – de arroz e filetes ou à lagareiro, peça o rosbife que é uma obra de arte, peça qualquer assado que não fica mal.
No tempo da lampreia que é o que corre, experimente uma lampreia na sua melhor grandeza – a feita à bordalesa. Aqui come-se como em muito poucos sítios do burgo.
Nas sobremesas peça o imponente abade de Priscos ou o bolo de amêndoa com ovos moles.
Cartas de vinhos equilibrada e no preço justo.
Serviço diligente e de enorme simpatia.
Enfim, casa de Paulo e de Maria, este Morfeu é um sonho que espero permaneça em nós e na cidade por muitos e bons anos.
Restaurante Morfeu da Marginal
Rua do Ouro, 400 – Foz do Douro
4150-553 Porto
Tlf.: 226 095 295