O Marco da nossa Gastronomia
Marco Gomes dispensa apresentações. Foram já tantos os reconhecimentos e prémios que ganhou que dizer que é um dos maiores Chefs portugueses e mundiais pode parecer, não mais, do que um lugar comum.
Mas se Marco Gomes na área da boa gastronomia regional nada tem a provar tem, felizmente para nós, muitas coisas boas para nos dar a provar.
Escrever sobre Marco Gomes é sempre inspirador. Mas desta vez não é o Amigo que tanto admiro que me leva a escrever novamente sobre o seu exemplar Restaurante Foz Velha.
A verdade é que o Marco fez obras importantes no espaço que reabriu há poucas semanas com ar renovado e bonito, sem perder o glamour e elegância que já tinha.
Depois do bar acolhedor que se mantém à entrada, o espaço está dividido em dois ambientes distintos: um mais jovem e informal, outro mais elegante e sofisticado. Uma espécie de “privet” para os grandes almoços ou jantares de degustação.
No primeiro espaço há menus executivos com preços mais económicos. Se preferir o menu degustação, nas diversas versões que o Marco mantém, então opte pela zona mais privada, decorada com gosto e requinte assinaláveis.
O serviço é esmerado, atento e encantador.
E esse encanto surge logo com o que nos põem na mesa. Com o pão e a broa que saem quentinhos daquela mesma, divina, cozinha? O azeite tal como o Marco é íntegro e de grande qualidade. Porque, tal como o Marco, é de origem transmontana, onde a cozinha, quase toda matriarcal se faz com o vagar e o amor das mulheres predestinadas. Se molhar aquele pão quente, na textura suave daquele azeite e levar, devagar, aquele conjunto aos beiços, já pode ir embora que vai feliz!
Peça na entrada o presunto de porco bísaro. A cura é de vários anos. Se fechar os olhos e provar lentamente este presunto sente ainda mais coisas daquelas que o levam a achar imbatível o pata negra, seja bellota ou joselito. Marco Gomes consegue mostrar ao mundo que podemos com bom produto, boa cura e bom corte, ter o melhor presunto de todas as galáxias.
Dei-lhe a dica do Marco ser um telúrico transmontano. Apesar de telúrico, o Marco, ao contrário de Torga, tem sempre um sorriso rasgado de orelha a orelha. Daqueles de quem está de bem com a vida e gosta muito das coisas que faz. Ora, o vir daquela boa terra, com mais ou menos sorriso obriga a que se experimentem os enchidos e as alheiras de caça que são verdadeiramente especiais.
O peixe que o Marco tem é sempre daquele mar que dali se vislumbra, mas vindo o Marco de onde vem, eu em matéria piscícola, recomendaria dois ícones que o Chef trabalha como ninguém – o polvo e o bacalhau. O polvo assado tem a delicadeza e textura de quem sabe que o ponto de cozedura e o controlo de temperaturas são mais de meio segredo para um prato inesquecível.
O bacalhau, já tivemos a sorte de depois da reabertura, provar de duas maneiras. O lascado com migas e cama de legumes – delicioso, e o bacalhau à brás que quando vem à mesa ainda húmido, refrescado da salsa e decorado com azeitonas, é um deleite para a vista e um conforto para o palato mais exigente.
Mas a “Praia” do Marco são as carnes. Prove a bochecha e se não se ajoelhar é porque tem artrite, ou então não provou de forma adequada ou suficiente.
O costeletão, uns simples 800 grs de carne para duas pessoas, tem o valioso segredo de uma matéria prima insuperável.
E o arroz de costelinhas? Ai o arroz de costelinhas! Benza-o Deus, assim adobadas, assim com o arriz carolino naquele ponto de rescendência, porque esperamos que, quando daqui nos formos, o possamos encontrar no Paraíso.
As sobremesas continuam em grande forma – com as canilhas e os souflés em primeiro lugar.
Vinhos de enorme qualidade, não fosse o Marco um grande conhecedor dos melhores vinhos do mundo.
E pronto, caríssimos leitores, o novo Foz Velha, tem muitas coisas novas que valem a pena conhecer, mas felizmente mantém-se na Foz Velha, com as velhas iguarias com que o Marco Gomes, há já tantos anos, carinhosamente nos decide homenagear.
Restaurante Foz Velha
Esplanada do Castelo, 141
4150-196 Porto
Tlf.: 226 154 178