Aos 60 anos, o treinador do Benfica há muito que garantiu um lugar na história do futebol, mundo onde entrou pela mão do pai, o antigo jogador do Sporting, Virgolino António de Jesus.
Atualmente, Jorge Jesus é dos técnicos mais carismáticos do campeonato luso e as “coreografias” que protagoniza no retângulo em frente ao banco de suplentes – que muitas vezes não respeita – são sempre dignas de registo.
Durante os cerca de 90 minutos de uma partida, o ‘mister’ mexe músculos que muitos nem julgavam existir. A face enrugasse, os dentes rangem, os braços não param quietos e são muito os agachamentos que Jesus executa, fazendo distrair até o adepto mais apegado ao esférico.
Mais elegante, Jorge Jesus aprendeu que o fato de treino não é o ‘dress code’ adequado para os jogos oficiais, apresentando-se agora de fato como manda a elite do futebol, muitas vezes sem casaco e de mangas de camisa arregaçadas, até porque não para quieto um segundo. A pastilha elástica é que continua a somar-se como imagem de marca de quem foi antes jogador de futebol.
Após o apito final, a energia passa para as habituais entrevistas curtas, onde diz o que lhe vai no coração, sem grande atenção à língua de Camões, sendo famosas as suas gafes, repetidas também nas conferências de imprensa.
“ (Os adeptos) empulgam os jogadores, eles puxam pela equipa”, “Querem fazer do rapaz o bode respiratório”, “Não respondo a essa pergunta, porque isso é um assunto do forno interno do clube”, “Vocês os quatro formem aí um triângulo”, “Venham para junto dos pinos efervescentes”, são algumas das frases da sua autoria que nunca ninguém esquecerá.
Pontapés no português à parte, é-lhe reconhecido mérito quanto o assunto é tática, apesar da inegável teimosia que acompanha a sua carreira e que, muitas vezes, irritou as hostes desde que chegou à Luz em 2009, depois de uma boa temporada ao serviço do Sporting de Braga.
Ambicioso, substituiu Quique Flores, prometendo recolocar o Benfica no topo. “Comigo a equipa vai jogar o dobro”, prometeu na apresentação e, nesse ano, deu ao clube lisboeta o 32.° título no Campeonato Nacional e quase foi proclamado pelo povo como o novo Messias.
Na época seguinte, após ter estado à frente do FC Porto por seis pontos de distância, perdeu a Liga no Estádio do Dragão, com o golo de Kélvin aos 92 minutos a ditar-lhe a derrota. A imagem dele ajoelhado no relvado correu mundo, traduzindo sem equívoco a dor de quem vive o desporto-rei a 100.
O ano passado voltou a ser campeão e no campeonato que ainda se disputa, está bem encaminhado para a conquista do bicampeonato, estando a quatro pontos de diferença do rival do Norte que não lhe permitirá qualquer escorregadela.
Discreto, Jorge Jesus não mistura vida pessoal com trabalho, surgindo apenas pontualmente com a mulher, Ivone, de quem tem um filho, Mauro, de 20 anos. Do anterior casamento, tem outros dois, Tânia, de 37 anos, e Gonçalo, de 35, e é avô.
Fotos: José Gageiro