Um estudo – realizado por investigadores da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra (UC), University of Emory (EUA), Maxplanck Institute (Alemanha) e University of Iceland (Islândia) -, revela que “uma percentagem significativa de adolescentes portugueses apresenta sintomatologia depressiva (8%) ou está em risco de desenvolver depressão (19%)”, anunciou a UC.
A investigação, com o objetivo de “traçar o perfil de risco psicológico e genético para a depressão na adolescência” e “testar a eficácia de um Programa de Prevenção da Depressão para Adolescentes”, conclui ainda que a tendência para depressão na adolescência é maior nas raparigas: “Características temperamentais de emocionalidade negativa (tristeza, timidez, agressão, medo, etc.), estratégias de regulação emocional menos eficazes, maior número de acontecimentos de vida negativos na escola, com os amigos e com a família, bem como experiências de abuso e negligência e fraco desempenho escolar são fatores que deixam os adolescentes mais vulneráveis à depressão”.
A pesquisa envolveu uma amostra comunitária de 3.300 adolescentes, a frequentarem o 8.º e o 9.º ano de escolaridade e com uma idade média de 14 anos. “Numa amostra de 290 adolescentes em risco, foram estudadas a eficácia de um Programa de Prevenção da Depressão para Adolescentes (PPDA), uma adaptação do programa Mind and Health” e de um programa inovador criado na UC – Programa Parental para a Prevenção da Depressão na Adolescência (3PDA) para os pais e/ou encarregados de educação dos jovens em risco que participam no PPDA.
Os resultados mostram que “relativamente ao programa efetuado com os adolescentes em risco, para prevenir a depressão, os jovens do grupo experimental descem significativamente os níveis de sintomatologia depressiva com a intervenção e depois mantêm a mudança”, afirma Ana Paula Matos, responsável do projeto e membro do Centro de Investigação do Núcleo de Estudos e Intervenção Cognitivo-Comportamental da UC. Não se passa o mesmo com “o grupo de controlo (grupo sem intervenção)”, salienta a investigadora.
Quando os pais participam no programa “os valores de sintomatologia depressiva dos filhos descem significativamente após a intervenção, sendo estes jovens os que também apresentam os valores médios mais baixos de sintomatologia depressiva após seis meses de seguimento, comparativamente com os adolescentes cujos pais não participam no programa”, sublinha a investigadora.
Estes resultados vão ter “um impacto de grande relevo nos conhecimentos sobre a depressão nos jovens e a forma de a prevenir e tratar”, sustenta Ana Paula Matos, acrescentando que “a depressão é uma das doenças mais prevalentes nas crianças e adolescentes, comprometendo o funcionamento emocional, académico e relacional”.
As conclusões do estudo vão ser apresentadas e discutidas no congresso internacional “SaudávelMente”, a decorrer na Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da UC, na terça-feira e na quarta-feira.
Iniciada em 2008, a investigação, que foi financiada pela Fundação para a Ciência e Tecnologia, identificou igualmente algumas variáveis parentais que contribuem para a depressão nos filhos.