A incidência da conjuntivite alérgica aumentou drasticamente nas últimas décadas e apresenta um grande impacto na qualidade de vida dos doentes, afetando a produtividade no trabalho, as interações sociais, a acuidade visual e mesmo a aparência física. Numa altura em que os níveis de polinização começam a aumentar, a Sociedade Portuguesa de Oftalmologia (SPO) explica como tratar e aliviar os sintomas deste problema ocular.
Maria João Quadrado, presidente da SPO, refere que “o aumento da incidência da conjuntivite alérgica ocorre por vários fatores, nomeadamente alterações ambientais como o aumento da poluição e o contacto com animais de estimação. As alergias oculares estão entre as doenças mais frequentemente diagnosticadas pelo oftalmologista, constituindo um problema relativamente comum, principalmente nas crianças”.
A conjuntivite alérgica ocorre quando um alérgeno (agente estranho capaz de provocar alergia) irrita a conjuntiva, uma membrana fina e transparente que reveste o olho e a parte interior das pálpebras. Muitas vezes, a alergia ocular surge em associação com outras doenças alérgicas como asma, rinite alérgica, dermatite ou eczema atópico. Há quatro formas diferentes dentro das conjuntivites alérgicas: a conjuntivite alérgica sazonal, a conjuntivite alérgica perene, a queratoconjuntivite vernal e queratoconjuntivite atópica.
“As conjuntivites alérgicas sazonal e perene são as mais frequentes, afetando cerca de 20% da população. Na forma sazonal, que surge por norma na Primavera e Verão, os alérgenos são geralmente pólen de árvores, ervas ou flores que invadem o ar nos meses mais quentes. Os sintomas são mais notórios nos dias em que a quantidade de pólen no ar é maior. A conjuntivite alérgica perene ocorre durante todo o ano e está associada a alérgenos domésticos como o pó da casa ou o pelo de animais de estimação”, explica.
Relativamente aos sintomas, a especialista sublinha que “afetam caracteristicamente os dois olhos com queixas de lacrimejo, prurido (comichão), edema da conjuntiva (olhos inchados) e olhos vermelhos. Os sintomas originam bastante incomodo e podem afetar a vida quotidiana dos doentes. As conjuntivites alérgicas não apresentam risco de contágio, ao contrário do que acontece com as conjuntivites infeciosas”.
Nos olhos as alergias podem apresentar formas graves mas raras: a queratoconjuntivite vernal e a atópica. A queratoconjuntivite atópica é uma doença inflamatória crónica da superfície ocular e das pálpebras, associada a dermatite atópica e pode levar à cegueira pelo aparecimento de doenças graves da córnea como úlceras, abcessos e queratocone.
Para tratar conjuntivite alérgica “o primeiro é diminuir o contacto com o agente desencadeante”: “O uso de bonés de pala e óculos de sol diminui o contacto do pólen com a superfície ocular, constituindo uma medida simples e eficaz no combate à alergia ocular. Existem filtros que podem ser adaptados aos aspiradores para diminuir o número de partículas de pó circulantes. Mediante a gravidade das queixas e dos sinais clínicos, o tratamento pode passar pelo uso de compressas frias, lágrimas artificiais e colírios antialérgicos. Nas formas mais graves da conjuntivite alérgica como a queratoconjuntivite vernal e queratoconjuntivite atópica, utilizam-se agentes mais fortes como corticosteroides ou outros imunossupressores”.
A presidente da SPO lembra ainda que “esta medicação deve sempre ser receitada e controlada pelo oftalmologista pelos graves efeitos secundários que pode originar. O doente com conjuntivite alérgica deve sempre ser observado pelo oftalmologista”.