A Universidade de Coimbra (UC) liderou um estudo sobre a esquizofrenia. A pesquisa admite que a origem da esquizofrenia não seja neuronal, mas antes da glia, cujas células, não neuronais, assumem o suporte funcional dos neurónios.
“Até agora, a comunidade científica assumia que a origem da esquizofrenia é neuronal, mas um estudo internacional” sugere que “poderá não ser assim e que a origem desta patologia está na glia, que sustenta uma espécie de memória de longa duração do cérebro e que assume o suporte funcional dos neurónios”, anunciou a UC, através de um comunicado.
Liderada por investigadores do Centro de Neurociências e Biologia Celular (CNC) da UC, a pesquisa surgiu no âmbito de um estudo que foi “desenvolvido ao longo dos últimos quatro anos” e que visou “analisar o papel dos receptores A2A para a adenosina (‘antenas’ que detectam a adenosina, molécula que indica sinal de perigo no cérebro) nos problemas de memória”.
“Experiências em ratinhos permitiram observar que, além de estarem presentes nos neurónios, os receptores A2A surgiam igualmente na glia, especialmente nos astrócitos, as células mais abundantes da glia”, acrescenta.
Os investigadores decidiram então recorrer à engenharia genética e retirar os receptores A2A somente dos astrócitos para analisar possíveis reacções. Ao bloquear a presença de A2A na glia, observaram que “a comunicação dos neurónios fica seriamente comprometida”.
“Notou-se uma perturbação disseminada ao sistema nervoso central e os ratinhos passaram a comportar-se como indivíduos que padecem de esquizofrenia”, explica Rodrigo Cunha, coordenador do estudo, que também envolveu cientistas de dois grupos de investigação dos Estados Unidos.
Tal como acontece na esquizofrenia, “registaram-se três grandes tipos de alterações no funcionamento do sistema nervoso central dos animais, designadamente sintomas negativos (isolamento), sintomas positivos (alucinações visuais e sonoras, delírios, etc.) e problemas cognitivos (memória e concentração)”, sublinha o especialista. “Verificou-se ainda que os ratinhos ficaram ávidos de fármacos psicoactivos”, referiu.
Os resultados do estudo, financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia, por fundos europeus e por duas fundações norte-americanas, evidenciam que “os receptores A2A são responsáveis por garantir o equilíbrio entre a glia e os neurónios e sugerem que a glia pode ter um papel central no desenvolvimento de doenças psiquiátricas”.
“Ao desvendar mais uma peça chave no funcionamento do sistema nervoso é agora possível avançar para mais estudos tendo em vista o desenvolvimento de novas abordagens terapêuticas para uma das mais incapacitantes doenças psiquiátricas”, conclui a UC.