De chorar por mais

Azeite e Alho

As Tripas, o Azeite e o Alho

A AGAVI, perdoem a imodéstia de quem a dirige, está imparável com o lançamento de mais um evento. Desta vez no dia das Festas da Cidade, com o designativo geral “do Porto para o Mundo” a Agavi desenhou no Cais da Alfândega, a Festa da Partida.
É uma celebração daquilo que os portuenses iniciaram há 600 anos, com o início da Expansão Marítima Portuguesa, na ida à Ceuta. No solstício de Verão os Portuenses lançaram ao mar 70 naus que depois da paragem em Lisboa e em Lagos, haviam de chegar a Ceuta a 21 de Agosto. Estava iniciada uma epopeia que pode ser considerada a primeira grande globalização à escala mundial. Sob a batuta do Infante Dom Henrique – O infante do Porto, iniciava-se a grande diáspora dos Descobrimentos que, como diz o historiador Joel Cleto, foi o primeiro empreendimento a juntar continentes depois da glaciação. Leiam outra vez que vale a pena (para mais tarde matutar…).

Às vezes, espanta-me muito de não nos valermos da nossa história e das marcas e culturas que deixamos no mundo, para voltarmos com o mesmo entusiasmo e protagonismo aos mercados, sabendo que podemos levar na mala tantas coisas que existem (depois desta crise só me falem de coisas que existem) e que nós portugueses fazemos tão bem. E levando também, na mesma mala, a nossa história, a nossa cultura e o nosso permanente convite para que nos visitem.
E assim se cumpriu no cais da Alfândega sob os amorosos auspícios de S. João, a Festa da Partida que juntou numa mesa só, quase 250 portuenses vindos de todas as freguesias da cidade.

Desta vez, em vez das naus partiram simbolicamente cerca de 50 motards com bandeiras de Portugal e com produtos portugueses que nos chegaram um pouco por todo o País pela mão dos “infantinhos” uma iniciativa cultural da Escola de Rio Tinto valorizadora, junto das crianças, da figura e importância do Infante Dom Henrique.

A ementa foram, é claro, as tripas à moda do Porto, com o caldo verde a abrir e o leite creme a fechar. Assim, como manda a tradição. Tudo sobre a coordenação de um grande Chef Português – o Chef Ivo Loureiro.

E é sobre ele e sobre o seu magnífico “Azeite e Alho” que brilha ali junto da Praia da Apúlia que hoje Vos quero falar.
O Azeite e Alho é, como o nome indica, essencial, para quem quer conhecer a boa gastronomia do Norte de Portugal.
Os produtos portugueses do Mar e da Terra e o virtuosismo do Chef Ivo Loureiro fazem deste local, um espaço sagrado que merece peregrinação.

Azeite e Alho5

Passamos às propostas do Chef Ivo:
O espaço é bonito a cheirar a maresia e com quase duas salas, familiares, e de bonita amesendação.
O Chef Ivo Loureiro é generoso e criativo e, por isso, a lista alarga-se, não pelas banalidades habituais mas por criações de quem se preocupa em estudar a gastronomia oceânica ligada à tradição galaico-duriense.
As entradas são uma profusão de criações tentadoras e suculentas.

Desde a canja quente de bacalhau onde o mar entra por nós tranquilo e vaporoso, às angulas do Norte com piri-piri, um delícia que só conseguimos degustar aqui, a umas chamuças estaladiças que o Chef declara e bem, como vindas da Índia, à famosa farinha de pau, com peixe e tomate a fazer lembrar o pirão do nordeste brasileiro, ao exuberante salpicão em bucho da Aldeia – prato inesquecível que o Minho e Trás-os-Montes fazem de maneiras diversas e que me fazem lembrar o bucho recheado de minha Mãe, herança perdida para desvario e tristeza de toda a família.

Excelente o marisco que a magia daquela costa tem – experimente o magnífico lavagante à cubana.
No peixe, não passe sem provar a Broa recheada com bacalhau e grelos. Que rigor e cuidado nas texturas e nos tempos de cozedura, com o bacalhau e os grelos a deixarem-se ferver na broa, depois de, claro, levarem o azeite e o alho que a casa baptiza. Prove ainda, sem receio de que corra menos bem, o delicioso polvo no lagar e a magnífica açorda de cherne. E livre-se de sair de lá sem provar as grandes cataplanas do Chef Ivo.

Azeite e Alho

Nas carnes prove a posta do lombo na assadeira ao alho, ou os exuberantes rojões à moda do Minho. Uma das maiores especialidades da casa é o cabritinho na brasa – que ternura de prato feito na certeza da genialidade de Ivo Loureiro. O pato assado com arroz de carne é outra surpresa. O arroz de galo de cabidela só é surpresa pela sapidez e encanto com que é servido, naquele pontinho certo que arroz o carolino exige e convoca, a envolver o sangue, o vinagre e o galo massacrado e vencido à força de algumas horas de lume brando.

Nas coisas doces é tudo familiar e tentador, com destaque para a sopa dourada, o pudim de ovos à Priscos e o bolo de chocolate preto.

Boa a carta de vinhos, com representação de muitas das nossas melhores regiões.
Mas o realce principal vai para a cozinha antiga de Ivo Loureiro, habituado aos legumes (aqueles mesmo que Santa Apúlia nos dá), aos azeites e ao alho daqueles fabulosos assados e aos tachos de onde espreita, quando o visitamos, a cabeça de Ivo Loureiro, de onde saem todas estas radiosas criações.

Um brinde meu para o Chef Ivo Loureiro, que ainda trago o sabor das tripas feitas por ele no dia de S. João, com o mesmo rigor de Chef dos Tachos e da Cozinha Antiga portuguesa que ele faz gala em continuar a ser. Saúde Chef Ivo, continue a fazer, se Deus o deixar, das tripas coração e não se deixe perder em nada que fuja do “Azeite e do Alho”!

Azeite e Alho4

RESTAURANTE AZEITE E ALHO
Rua do Facho, 13
4740-055 Apúlia
Tlf.: 253 987 048