Um Grande Chef Mundial, ao virar da Esquina…
Conheço por força da profissão e pelo irresistível gosto de “mergulhar na gastronomia portuense, um grande número de Chefes de Cozinha.
Devo-lhes muito na aprendizagem que fiz do receituário português e, muito mais ainda, nas horas saborosas e truculentas que passei à
volta das Suas criações.
Conheci Chefes de enorme gabarito internacional e, como em muitos outros casos, tenho pena que o País se apouque quando se trata de promover os seus maiores.
Duvido que muitos portugueses conheçam o triunfo de Pedro Mendes na cosmopolita capital inglesa, ou o facto de Anthony Lopes ter sido considerado pela “Time Out” de Nova Iorque, Chefe do Ano da capital americana. Parecerão minudências, mas ao contrário são o diferenciador que o País precisa para valorizar a sua história e a sua cultura – afinal, os seus principais activos.
Serve tudo isto para dizer que privilegiadamente conheci, com prazer indizível, Grandes Chefs de Cozinha, por esse mundo fora.
Mas só nos dedos de uma mão caberiam Chefes tão criativos e versáteis, tão virtuosos, consistentes e conhecedores como o Chef Vítor Sobral.
Foi ele que na passada quinta-feira, com um jovem Chefe brasileiro de enorme potencial, Rafael Despirite, abrira o Portugal Premium, com um jantar exuberante servido na novíssima Taberna da Esquina que com a Taska da Esquina, representam a enorme aposta de sucesso que Vítor Sobral fez na sofisticada S. Paulo. Numa e noutra “Esquina” com a mesma preocupação de dar lustro e relevo aos melhores produtos portugueses.
Vítor Sobral tem sido em S. Paulo e no Brasil um dos maiores embaixadores do que melhor se faz em Portugal.
Para que não nos fiquemos nas vénias e salamaleques que o Vítor não é disso, vamos ao jantar que reuniu um conjunto notável de produtores portugueses que vieram apresentar os seus produtos e vinhos, nesta Mostra Premium que resulta de uma parceria entre a AEP e a AGAVI e se abriga numa iniciativa mais ampla, designada Experimenta Portugal, feita este ano na Virada Cultural de S. Paulo.
A entrar, um inesquecível escabeche de cavala. Feito com cavala em conserva e acidulado por um escabeche rigoroso, onde se adivinhavam as mãos rigorosas do mestre a aproveitar a textura da cavala e a empanturrá-la de uma cebola ainda consistente e farta, como manda o figurino.
Depois, uma tábua de enchidos e embutidos de enorme qualidade e diversidade, apresentadas com a chancela das bravíssimas Minho Fumeiro e Primor e confeccionados a preceito, com a harmonia que o Chef Viítor Sobral sabe pôr nas coisas que faz.
A seguir entrou em cena Raphael Despirite – com grande fulgor diga-se. Primeiro com um polvo, feito ao vapor, mas que não perca um único aroma daquela vaga de mar de que dele emana. No ponto cirúrgico da cozedura, julgo que amaciado e aromatizado com azeite e especiarias – a primeira “vinda ao palco” de Raphael passou com enorme distinção.
Mas o jovem brasileiro não se ficou por aqui e, logo a seguir, brilhou com um lombo de bacalhau feito a baixa temperatura com um aveludado de batata que resultou muito bem e a experiência das acelgas que deram cor e acidez ao prato. Bravíssimo, Raphael.
Vítor Sobral terminou as substâncias em grande estilo – com o “seu” inesquecível cordeiro grelhado, acolitado de legumes quentes e batata doce. Um mimo para a alma que já se vergava ao peso de tantas iguarias.
Espaço ainda para o famoso pudim de azeite, com azeitonas confitadas e raspa de lima. Uma textura e um paladar que acalmara a revolução de aromas que o jantar nos trouxera.
Foi assim que, nesta Taberna da Esquina, no Estado de S. Paulo, no Brasil, na noite do dia 18 de Junho, do ano da graça de 2015 se fechou esta acta do capítulo inicial do Portugal Premium, com a glória de um dos Maiores Chefs Premium que Portugal tem no Mundo.