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Maria Barroso: uma mulher gigante na sua aparente pequenez

Maria de Jesus Simões Barroso Soares nasceu na Fuseta, no dia 2 de maio de 1925. Foi uma mulher gigante na sua aparente pequenez, pesava 49 quilos. Gentil no seu trato com toda a gente era a sua elegância serena e irrepreensível, e o charme, que a distinguiam à primeira vista. Uma mulher marcante, forte e corajosa.

Nas entrevistas mais intimistas que deu, frisava, que tinha sido dos pais que herdou os grandes valores do amor ao próximo e o respeito pelos outros.

Foi atriz, ativista política e social e professora. Perseguiu o sonho da representação, contra a vontade da mãe, em 1944/45, a par da Faculdade de Letras de Lisboa, onde cursa Histórico-Filosóficas, frequenta o Conservatório, o que lhe abriria as portas do teatro. Além disso, também fez cinema, tendo trabalhado com Paulo Rocha e Manoel de Oliveira. Porém, o sonho viria a ser interrompido pela ditadura, que a afastou dos palcos. “Persona non grata” do Estado Novo também foi impedida de dar aulas no Colégio Moderno.

Casamento com Mário Soares
Foi casada com Mário Soares, e por isso, primeira-dama de Portugal de 1986 a 1996. Recebeu o apelido de “eterna primeira-dama”. Dizia que se aproximou de Soares por ter encontrado nele o desejo de lutar por um mundo melhor. Isso foi uma das coisas que a atraíram e a fizeram continuar com o que foi seu marido, durante quase 70 anos.

Casaram-se em 1949, quando o noivo está mais uma vez à guarda da PIDE, no Aljube. Mas isso não foi impeditivo para que a cerimónia se realiza-se. Trocaram alianças na cadeia. Ao seu lado fez parte do grupo de fundadores do Partido Socialista. Foi a única mulher a fazer parte deste grupo.

Maria Barroso fez jus aos votos de casamento, e acompanhou Mário Soares quando este foi deportado para São Tomé (1968) e mais tarde para Paris. Só regressaram a Portugal após a “revolução dos cravos”.

Depois de sair de Belém assumiu atividade assinalável na área dos direitos humanos: foi presidente da Cruz Vermelha Portuguesa (1997-2003), e esteve ligada à Dignitate – Fundação de Direitos Humanos e à Fundação Aristides de Sousa Mendes.

Viveu ao lado de Mário Soares sem nunca abdicar do que pensava, acreditava ou sentia. Apoiou e deu conforto a pessoas quase contradizendo o marido, mas sem nunca o afrontar ou colocar em causa o seu estatuto. A sua atitude quase maternal, não a inibiam de fazer valer o seu ponto de vista, até com o marido, embora tentasse não fazer nada que o contrariasse, para o não enervar.

Tornou-se uma mulher de fé, em setembro de 1989, quando o filho João sofreu um acidente em Angola, em que ficou entre a vida e a morte. Os médicos não a enganaram, o caso era muito grave. Uma fé profunda e misteriosa começou a surgir e percebe que pode haver milagres. Relembra as palavras que a avó lhe ensinou em pequena e volta a acreditar em Deus. Embora não gostasse de falar sobre este assunto, admitia: “Estou muito contente com isso, dá-me serenidade”.

Nunca se retirou ou acomodou, viveu até aos últimos dias com a elegância de sempre, com o sentido do respeito pelos outros, o sentido da solidariedade e o amor ao próximo.

Gostaria de ser lembrada como “uma cidadã consciente e solidária, amante da liberdade e da paz.”