Além de causar cancro e doenças cardiovasculares, o tabaco também poderá aumentar o risco de transtornos psiquiátricos graves, nomeadamente psicoses como a esquizofrenia, de acordo com um estudo publicado na revista “Lancet Psychiatry”.
Uma “associação” estatística entre o fumo e as psicoses, em especial a esquizofrenia, foi descoberta em estudos anteriores, lembram os investigadores europeus que assinam o trabalho.
Foi observado que as pessoas com transtornos psiquiátricos graves eram significativamente mais propensas a fumar, com taxas de tabagismo entre os psicóticos três vezes maior do que na população geral. Mas “as razões pelas quais as pessoas com psicose são mais propensos a fumar do que o resto da população permanecem obscuras”, lê-se no seu artigo.
É a doença e/ou os tratamentos psiquiátricos usados para combatê-las que encorajam o tabagismo? Várias teorias nesse sentido têm sido propostas, em particular o facto de que o cigarro ajudaria a compensar os efeitos das drogas sobre a regulamentação da dopamina, um neurotransmissor associado ao mecanismo de recompensa. No entanto, alguns investigadores concentraram-se na ideia de que o próprio cigarro “poderia aumentar o risco da ocorrência destas doenças”.
Este estudo procurou especificamente testar esta hipótese e determinar se a psicose é declarado mais cedo em fumadores do que entre os não-fumadores.
Deste trabalho, que consiste na análise de vários estudos realizados anteriormente, envolvendo um total de 14.555 fumadores e 273.162 não-fumadores, foi extraído um resultado bastante claro. “O consumo diário está associado a um risco aumentado de psicose e ao início mais precoce dos transtornos psicóticos”, escreveram no artigo os autores do estudo, Pedro Gurillo (hospital de Torrevieja, no leste de Espanha) e Sameer Jauhar (King’s College de Londres). No início da doença, os psicóticos são três vezes mais propensos a serem fumadores do que o resto da população.
“Embora seja sempre difícil determinar a causalidade, os nossos resultados mostram que o tabagismo deve ser seriamente considerado como um possível factor de risco no desenvolvimento de psicoses e não é considerado como uma simples consequência da doença”, explicou James MacCabe (King’s College), também autor do estudo. Um “nexo de causalidade” ainda precisaria de ser plenamente demonstrado, mas os cientistas apontam para uma possível explicação: a dopamina.
“É possível que a exposição a nicotina aumente a libertação de dopamina, o que resulta no desenvolvimento de psicoses”, já que o excesso de dopamina no corpo é uma das hipóteses para explicar a esquizofrenia, afirmou Robin Murray, da King’s College.
Este estudo e outro trabalho sueco publicado recentemente sobre tabagismo e esquizofrenia “argumentam fortemente em favor de uma relação causal entre tabagismo e esquizofrenia”, avaliou o psiquiatra Michael Owen (Universidade de Cardiff). Mas para Michael Bloomfield (University College London), “ainda há muito trabalho a ser feito antes que os cientistas possam declarar com certeza que fumar realmente aumenta o risco de esquizofrenia”.