O Lisboète
Ali muito perto do largo de Santos, no exato espaço onde outrora se instalou a “Alma” e a inspiração de Henrique Sá Pessoa, vive hoje um restaurante, de inspiração mediterrânica e pronúncia francesa que dá pelo nome de Lisboète.
Para quem conheceu o ALMA o espaço não sofreu muitas modificações. Os tons suaves e claros que foram escolhidos dão ao espaço uma elegância tranquila que resulta bem para quem quer juntar o gosto pela gastronomia com o gosto pelo sossego.
Walter Blasevic é um Chef criativo e seguro que muito apreciamos. Não faz (ou talvez faça?) demasiadas “espumas” que o tornaria refém de uma cozinha molecular que felizmente foi passando de moda. Mas, pelo contrário, interpreta com rara criatividade os produtos regionais do País que o acolheu.
De facto é um Chef francês de origem alsaciana. Mas o segredo do seu sucesso está na dupla que criou com a mulher que coordena com simpatia e profissionalismo o serviço de sala e que é a portuguesíssima, Mariana Monte.
Ao Almoço, o Lisboète tem uma ementa executiva, com uma alternativa piscícola e outra mais ligada às “tentações da carne”. Isto para além de uma entrada e de uma sobremesa. Optamos por uma delicada e bem-feita salada de atum com a acidez bem controlada e a primazia dada ao sabor truculento do atum. Depois “atiramo-nos” a umas bochechas, com uma espécie de esmagada de batatas e um estufado de legumes com grande equilíbrio nos sabores e nas texturas. Se os acólitos eram bons, o pároco que é como quem diz as bochechas, eram do melhor que há. Com a gelatina que o porco deixa nesta pequena peça de exceção, e com a doçura tenra e o suco grosso que caracterizam este prato quando feito com a mestria singular do Chef Blasevic.
Mas vamos à lista que não sendo comprida é suficientemente sugestiva:
Nas entradas destaque para o carpaccio de polvo que finalmente vingou como um dos carpaccios com matéria-prima mais favorecida, no caso o azeite de citrinos dá-lhe um toque particular pela acidez e pela frescura. A terrine de foie gras com figos e vinho do Porto é a prova acabada das boas harmonias que a “cuisine française” pode fazer com a cozinha portuguesa. Uma recomendação especial para as lascas de bacalhau com emulsão de trufas. Uma das tais que os clientes não deixam sair da carta.
Na substância piscícola, sempre um destaque para o atum – e esta experiência é das que vale a pena – um atum mal passado (mi-cuit) com cannelloni de beringela. Excelente a combinação, com a beringela a estender a passadeira ao atum, um dos peixes que melhor atenção merece na nossa cozinha.
A garoupa também aparece com funcho gratinado e as vieiras grelhadas com manteiga batida (deliciosa) fecham a oferta da carta na perfeição.
Já nas carnes destacamos o porco bísaro, com migas de tomate e chouriço e espargos verdes. Prato bonito e harmonioso em todas as dimensões. Outro com lugar cativo na lista é o duo de borrego com azeitonas e tâmaras. Experimente também o exuberante bife maturado de novilho.
As sobremesas são excelentes, desde uma ótima tarte tatin, até uma tábua de queijos que promove, outra vez, o encontro luso gaulês.
A carta de vinhos não é ampla, mas é suficientemente robusta na qualidade e na diversidade que oferece. O serviço é elegante e familiar.
E pronto, julgo que está tudo dito, sublinhando apenas a vénia profunda ao Chef Blasevic que vale a pena conhecer e a este Lisboéte que nos transporta para uma Lisboa de pronúncia e sabor franceses.
FICHA TÉCNICA
Restaurante Lisboète
Calçada Marquês de Abrantes, nº 94
1200-720 Lisboa
Tlf.: 213 950 953
Tlm: 962 096 344
E-mail: [email protected]
Encerra ao Domingo