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Ataques de Paris: Portuguesa heroína em noite de terror

Margarida de Santos Sousa, porteira num prédio mesmo ao lado do Le Bataclan, a sala de concertos onde morreram mais de 80 pessoas ontem à noite em Paris, recebeu em casa cerca de 15 sobreviventes e socorreu cinco feridos, um em estado grave.

“Aqui, nas escadas e num apartamento do quarto andar (acolhemos) à volta de 60 pessoas. Aleijadas e com balas tínhamos cinco pessoas, uma em estado muito grave, que foi a menina que estava com duas balas aqui”, contou a porteira à agência “Lusa”.

Visivelmente emocionada, Margarida não fala de ato heróico, apesar de talvez ter salvado a vida da rapariga, que tinha duas balas nas costas, quando pediu a uma médica do prédio para a vir socorrer: “Aquilo que desejo do fundo do coração é que ela consiga sobreviver porque me deixou muita pena quando ela foi embora, antes dos bombeiros a levarem, ela teve ainda o dom de me agradecer e pediu-me para eu lhe dar um beijinho. Não estou à espera de ser considerada heróica, mas estou satisfeita com aquilo que fiz porque fi-lo de todo o meu coração, e só espero que todos aqueles que estavam aqui aleijados, com balas, consigam sobreviver”.

Há 35 anos a viver em Paris, Margarida já tinha assistido em janeiro a toda a agitação em torno do ataque à sede do “Charlie Hebdo”, que se encontra também muito perto de sua casa e agora teme que se esteja perante o início de uma guerra.

Natural de Ermesinde, esta mulher não hesitou em abrir as portas de casa e do prédio às pessoas. Uma das questões que se colocou foi se haveria criminosos infiltrados entre elas, mas “quando se vê as pessoas encharcadas de sangue, não se tem tempo de saber se há alguém de maldade”.

“As pessoas todas estavam em pânico, pediram para fechar as portas à chave, para fechar as cortinas, as luzes, para fechar tudo porque eles tinham tanto medo. Tive uma jovem que se enfiou debaixo da minha mesa para se esconder e que berrava ‘Feche as portas, feche as janelas, feche tudo’. Só temos que reagir para a frente. Claro, foi um pânico total quando vi muito sangue, a menina deitada aqui no meu sofá, encharcada de sangue, a gente fica um bocado paralisada sem saber o que fazer e o que dizer”, descreveu.

Ao princípio, quando ouviu tanto barulho no exterior pensou “Mas o que é isto?”, e foi então que as pessoas lhe pediram socorro.

“Foi quando começou a chegar muita gente, todos com muito sangue por eles abaixo, uns com balas nos braços, uma senhora com uma bala no peito e outra com duas balas nas costas que recolhi aqui na minha casa até virem os bombeiros para a assistir”, descreveu.

A noite de Margarida só terminou por volta das cinco da manhã e esta manhã a agitação recomeçou com os telefones a tocarem, a família e amigos preocupados, e alguns jornalistas a baterem à porta para entrevistarem a portuguesa que esteve “na primeira linha” dos socorros de ontem à noite.