O presidente da Associação Portuguesa de Cronobiologia e Medicina do Sono (APCMS), Miguel Meira e Cruz, alertou que dormir pouco ou mal pode aumentar o risco de desenvolver diabetes.
O alerta da associação surgiu no sentido de assinalar o Dia Mundial da Diabetes (que se comemora este sábado), uma doença cuja prevalência voltou a aumentar em Portugal em 2014, atingindo 13,1% da população, mais de um milhão de portugueses, a que se juntam mais de dois milhões de pessoas com pré-diabetes, segundo o relatório “Factos e Números da Diabetes do Observatório Nacional de 2014”.
Em declarações à agência “Lusa”, Miguel Meira e Cruz afirmou que existe alguma evidência de que os doentes com sono mais curto (menos de seis horas) têm “uma maior prevalência de problemas relacionados com o metabolismo glicémico”.
“É um risco a privação do sono, seja voluntária ou causada por outras doenças do sono”, como a apneia obstrutiva do sono ou as insónias”, disse o especialista, lembrando que a diabetes é responsável por quase 9% da mortalidade por todas as causas no mundo, sendo que em Portugal é de cerca de 4,5%.
“Existe, de facto, uma necessidade de tentar reverter estes números. Claro que não é só com o sono”, mas com o controlo da obesidade, a redução do colesterol e com atividade física.
Meira e Cruz citou um estudo realizado em 2012, que envolveu 31 doentes que foram submetidos a polissonografia, um exame de referência para estudo do sono.
O especialista e coautor do estudo explicou que quando comparados dois grupos de não diabéticos, um com elevação da glicemia em jejum (indicador precoce de disfunção no metabolismo da glicose), e outro sem essa alteração, verificou-se que os doentes do grupo com valores elevados demoravam mais tempo a adormecer e muitos preenchiam critérios clínicos de insónia.
O estudo observou que “à medida que o tempo de sono profundo diminuiu, aumentaram os níveis de glicemia em jejum”.
“Embora um estudo não dite regras, o que impressionou neste trabalho foram as alterações que se registaram naquela etapa que é o início da doença metabólica conhecida por diabetes, ainda por cima, num grupo que é relativamente negligenciado do ponto de vista clínico, porque é considerado normal”, sublinhou.
Além disso, advertiu ainda que “o impacto da privação de sono é mais grave em doenças que, para além de fragmentarem o sono, interferem diretamente com o metabolismo através dos seus fatores de risco, como sucede nas perturbações respiratórias associadas ao sono”.
Muitas vezes as pessoas esquecem-se da importância de dormir bem. “As pessoas trabalham cada vez mais, até mais tarde” os jovens “ficam frequentemente até altas horas” a estudarem ou a divertirem-se, “comprometendo o sono, porque o despertador toca à mesma hora”. Estes descuidos têm impactos na saúde, sobretudo à medida que a idade avança.
Além de maus comportamentos, existem outras alterações que condicionam o processo de sono, como a síndrome de apneia obstrutiva do Sono, que atinge cerca de 17% dos homens e 9% das mulheres.