Que viagem curiosa a nossa, não pára e dizem-nos, sem querermos ouvir, que já vamos a meio do caminho. É a meia idade comentam… Mas que raio de mania. Eu (e não sou mesmo só eu) sinto-me praticamente uma miúda e quase me atiram à cara que o que falta é já menos do que passou.
Não sei se é geral a sensação mas no final da adolescência eu olhava para os ditos “quarentões” e achava que era gente muito velha que quando lá chegasse já estaria com a vida arrumada, era rica, passava o tempo a viajar, enfim…era doce! Mas depois de cá estar… É tudo igual, é tudo igual… Somos a mesma pessoa e esta coisa da idade só se sabe qual é porque há um registo que nos obrigada a contar o tempo… Só para a frente é que parece mais pesada mas quando lá chegámos é igual. Ok… a máquina começa a implicar connosco e a ferrugem estala mais nas mexidas, é certo, mas de resto tudo igual.
Não sei se é geral a sensação mas o presente é feito das nossas memórias, das nossas experiências e para quem está nesta etapa, de tudo o que um quatro acompanhado amontoa.
É uma década de respeito.
Ouvi há pouco tempo atrás que as pessoas podem cometer as maiores loucuras nos anos que compõe a década dos quarenta. Crimes surpreendentes são mais frequentes nesta fase do caminho… A instabilidade é trazida por um conjunto de acontecimentos que nos atiram para a realidade da vida adulta. É a fase mais frequente para grandes abalos nas estruturas principais da nossa vida, tremores de terra que danificam as nossas bases. Fase de perdermos algumas figuras de referência na nossa história… Avós, pais, e outros pilares de vida que nos roubam sem grande aviso. Também, dizem, é a que mais acolhe divórcios, lidar com novas etapas e aprender a viver de outra maneira. É ainda fase profícua em grandes, improváveis, alterações na vida profissional. Tudo contribui para a tal fórmula que mal cozinhada pode levar às maiores loucuras.
Mas também pode ser dourada, pintada com um bom verde de esperança, com esse amarelo mágico da alegria e com todas as cores que foram colorindo já uns anos de vida. Anos de vida que num grande desenho resultam no quadro como o vemos hoje, onde reflectida está alguma aprendizagem, técnicas que acumulamos para melhorar e lidar com cada dia e por isso só pode ser melhor todos os dias. Agora sim, só nesta altura sim… podemos ouvir baixinho essa coisa da meia idade… Pode só faltar metade, por isso, há que agarrá-la com unhas e dentes e fazer de todos os dias um conjunto de bons momentos. São os pequenos bons momentos que em conjunto foram aquilo que chamamos felicidade. Afinal é bom andar para a frente e não tem mal nenhum pensar que o quatro anda mais acompanhado.
Dito assim quase parece que queremos correr para os 50… que são dourados com certeza! Mas não… Deixem-se lá estar à espera que chegaremos quando tivermos que chegar. Eu não corro e já vou quase a meio. É certinho esse caminho, inversão de marcha não há. Por isso calma, faltam muitos dias, cada um mais importante que o outro e com um quatro, bem acompanhado, é só reunir bons momentos para ser tudo dourado.