Aos 31 anos, o ator vive um dos papéis mais complexos da sua carreira ao interpretar José da Cruz na novela da SIC “Coração d’ Ouro”, um jovem com Síndrome de Asperger.
O problema de Zé é transversal a muitos indivíduos da nossa sociedade, de várias idades e nem sempre é de fácil diagnóstico, podendo ser descoberto ainda nos primeiros anos de vida ou já mesmo na idade pré-escolar.
Para compor a personagem, Cristóvão teve a “ajuda da Associação Portuguesa de Autismo numa primeira fase e depois também a ajuda da APSA – Associação Portuguesa de Síndrome de Asperger”. “Pude conhecer alguns jovens com Asperger e isso ajudou-me bastante. Falar com eles, perceber quais são os seus problemas no quotidiano, perceber o que eles gostariam de ver retratado num personagem com esta particularidade… depois li bastante porque há boa literatura sobre o síndrome e vi alguns filmes. Dou-lhe um exemplo bom, o ‘Adams’, que é uma bíblia para quem quer saber o que é o síndrome”, explicou à Move Notícias.
A par da ajuda profissional, também contou com o apoio incondicional da namorada, Rita Castanheira Alves, que “é psicoterapeuta”: “Ela trabalha com jovens, crianças e adolescentes, muitos deles com Asperger e conhece bem o síndrome. Ajudou-me bastante a construir a personagem. Cada pessoa é uma pessoa e, embora haja coisas padronizadas, há outras que são variáveis. Conheci muitos jovens e eram todos muito diferentes apesar de todos terem características que identificam o síndrome”.
Entre os pontos que captou do contacto com quem tem esta condição psicológica, apercebeu-se das coisas que eles gostavam de ver retratadas na novela: “A dificuldade de comunicar com os outros e a hiper-sensibilidade ao barulho. O trabalho parece bem conseguido e a prova é “o bom feedback de alguns técnicos” que o ajudaram, assim como da APSA.
E, como “dia 18 de fevereiro é o dia internacional do Síndrome de Asperger vamos com certeza fazer alguma coisa para divulgar mais esta síndrome para por as pessoas a falar e a tirar algumas dúvidas, com médicos, técnicos e pessoas que sofrem deste problema. Estão convidados a participar porque grande parte da integração faz-se com a sociedade que tem que estar desperta, saber que existe esta condição e a melhor maneira de lidar com isso”, alertou.
A nossa publicação conheceu pessoalmente o Zé durante as gravações do casamento da Inês e do João, no Porto, cerimónia a que ele assistiu com a namorada da ficção, que é surda muda, provando que “tudo pode ser normal”. Aliás, “a realidade surpreende muito mais que a ficção. Ele aprende a língua (gestual) com ela, apesar de eu não ter aprendido muito, pois um dos problemas do síndrome é a motricidade fina (movimentos de precisão), eles têm alguma dificuldade com isso. Então, ela lê nos lábios e ele percebe os gestos dela. São um casal diferente, mas acho que bonito”, avaliou o protagonista, entusiasmado com o guião.
Fotos: José Gageiro