Off the record

Sofia Alves: “Não importa como se começa uma vida”

Foi no cinema, em 1993, que se estreou na representação pelas mãos do mestre Manoel de Oliveira, no filme “Vale Abraão”, ao lado de grandes nomes da fição nacional como: Ruy de Carvalho, João Perry e Glória de Matos.

No mesmo ano integrou o elenco de “A Banqueira do Povo”, ao lado de Eunice Muñoz e desde então foram vários os projetos que abraçou. “Nunca fiz nenhum curso nesta área, não tive tempo, mas tenho tido o privilégio de trabalhar com os melhores e de aprender muito”, relembra Sofia Alves, de 42 anos.

Ao longo de mais de duas décadas dedicadas à representação, passou pelos três canais de televisão mas foi na TVI que, em 2001, ganhou particular destaque ao dar vida às gémeas Luísa e Leonor, na novela “Olhos D’Água”. Desde então, protagonizou várias tramas na estação de Queluz de Baixo.

Afastada há pouco mais de um ano do pequeno ecrã, Sofia Alves irá regressar no próximo mês de Abril, com “uma pequena participação numa novela juvenil onde farei par com o Pedro Lima”, revela à Move Noticias. Em “Quatro Estações” (nome provisório) irá “experimentar um género diferente” na medida em que, para além de nunca ter estado no horário das 19 horas, irá ter contacto com o público mais jovem.

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“É no teatro que me sinto realizada”
Para além do regresso à ficção da TVI, Sofia prepara-se para estrear a peça “A Dama das Camélias” no Auditório Municipal Eunice Muñoz, em Oeiras, (onde estará em cena até abril).

Com maior presença no teatro nos últimos anos, Sofia confessa que “embora o trabalho na televisão seja necessário, também pela visibilidade que proporciona”, e haja “muito bons projectos, como foi o caso de Mulheres”, é em cima do palco que se sente “verdadeiramente realizada”: “Tudo é importante, mas eu gosto de trabalhar para o público e sem dúvida que o teatro é a única arte viva”.

Assim, no papel de Margarida Gautier, Sofia Alves realizará “o sonho de uma vida”. “Esta história é uma paixão. Lembro-me que desde a primeira vez que o li que fiquei rendida. Sempre achei que seria uma bênção e um privilégio entrar numa peça com este texto de Alexandre Dumas Filho”, explica entusiasmada. O encenador e dramaturgo Celso Cleto, que também é seu marido, fez-lhe a vontade… “Quando o Celso decidiu trazer esta peça para comemorar o décimo aniversário da companhia fiquei histérica”, relembra salientando o “elenco maravilhoso” que conseguiram juntar.

Em palco estarão também Ruy de Carvalho, Pedro Carvalho, Carmen Santos, Carlos Santos, Helena Veloso, Igor Sampaio, João de Carvalho, Joel Branco, Paula Marcelo, Tiago Careto e Rita Cleto, esta última filha do encenador.

Embora se traduza, também, num projeto “familiar” na medida em que a companhia Dramax foi criada por Celso e Sofia e a atriz integrar a maioria das produções do marido, percebe-se e o casal garante que “é muito fácil separar as águas”. “Sou fã do Celso e não digo isto como mulher dele, mas como alguém que segue as suas orientações no trabalho”, confidência Sofia. No que respeita à sua “filha do coração” – forma como carinhosamente se refere à enteada, Rita – salienta “a vontade de aprender” da jovem, sem nunca se “encostar por ser filha de quem é”: “É muito bom e enche-me de orgulho vê-la crescer como profissional e partilhar o palco com ela”.

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Uma mulher de fé
“A Dama das Camélias” traduz a história verídica de uma cortesã que “se transforma com o amor e que, mesmo sabendo que vai morrer, aceita a misericórdia do senhor e tenta redimir-se ao ponto de deixar de lado tudo o que é supérfluo”.

Uma peça que chega “no ano certo”. “Para além da Dramax comemorar uma década, 2016 é o ano da misericórdia, é o ano escolhido pelo Papa Francisco para a conversão, e o tema não poderia estar mais atual”, explica Sofia, salientando que a intenção é “levar uma mensagem de fé, esperança e perdão” ao público através de “grandes momentos de reflexão” num tempo em que “Deus perdoa mas a sociedade nunca”.

Movida pela fé, a atriz continua a “acreditar na humanidade”
“Queremos chegar às pessoas através das artes” explica com o brilho no olhar que lhe é característico.

Discreta na sua vida privada
Ao longo dos anos Sofia Alves foi tomando uma postura recatada no que toca à sua vida pessoal.

Mãe do jovem Guilherme, fruto de uma relação anterior, poucas são as vezes em que fala do filho, mantendo-o afastado da exposição mediática.
Longe dos holofotes está, também, o assunto que se prende com a adopção de uma criança pelo casal, processo que se estende há vários anos e assunto que não gosta de alimentar.

A atriz é hoje a imagem de mulher serena e tranquila, um estado que foi conquistando com o passar do tempo: “Digo muitas vezes que não importa como se começa uma vida, mas como se acaba, o importante é que ao longo do percurso nos tornemos pessoas melhores”.

“A dada altura também eu me converti, mudei”, confessa, sublinhando “uma série de coisas levaram-me num caminho que me fizeram muito mais feliz”.

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Fotos: Alexandra Martins Do Vale