Integrada no programa do cinquentenário da delegação francesa da Fundação Calouste Gulbenkian, a Cité de l’Architecture & du Patrimoine, em Paris, recebe – a partir desta quarta-feira – a exposição intítulada “Les universalistes” (“Os universalistas”) onde a arquitetura portuguesa dos últimos 50 anos estará em destaque. Mais do que uma homenagem a algumas das maiores obras nacionais, este pode ser “um exemplo” para França, afiança Nuno Grande, comissário da mostra.
“A arquitetura portuguesa desperta muita curiosidade neste momento, numa Europa em crise, onde também a questão da arquitetura do ‘star-system’ está a ser colocada em causa”, disse, referindo-se aos que “fazem a mesma arquitetura em todo o mundo, repetindo as mesmas receitas”.
“Os melhores arquitetos portugueses não têm de o fazer, vão-se adaptando aos lugares onde fazem as suas obras. Desse ponto de vista, a arquitetura portuguesa pode ser um exemplo – eu não diria uma lição, porque pode ser demasiado pretensioso – mas pode ser um exemplo, para se perceber que não é preciso estar sempre a repetir fórmulas ou modelos, que há modelos que são plásticos, que se transformam”, afirmou o comissário.
A exposição vai estar patente até 29 de agosto e propõe um olhar sobre meio século da produção arquitetónica portuguesa, com projetos de Álvaro Siza Vieira, Eduardo Souto de Moura, Gonçalo Byrne, Nuno Teotónio Pereira, Nuno Portas, Pancho Guedes, Fernando Távora, João Luís Carrilho da Graça, Nuno Mateus e José Mateus, entre outros.
O fio condutor da exposição segue os “arcos temporais e conceptuais da condição universalista” portuguesa, defendidos pelo filósofo Eduardo Lourenço.
Nuno Grande sublinhou que “universalismo é aqui entendido como uma espécie de provocação”, porque França “inventou o universalismo filosófico, o chamado Iluminismo do século XVIII que, de alguma maneira, se tornou uma espécie de modelo para a Europa”.
“Quando os nossos arquitetos constroem lá fora ou recebem influências exteriores, nós podemos ver que eles fazem sempre uma mistura entre a sua condição local e essa condição global a que hoje ninguém escapa”, salientou em prol do trabalho nacional.
Nuno Grande defendeu, ainda, que “não há uma arquitetura portuguesa, há uma forma portuguesa de fazer arquitetura”, justificando que os arquitetos portugueses têm “uma relação com o mundo que permite trabalhar sempre nesta relação com o outro”.
A exposição está integrada no programa do cinquentenário da delegação francesa da Fundação Calouste Gulbenkian, que também é marcado pela retrospetiva no Grand Palais da obra do pintor Amadeo de Souza-Cardoso, que vai ficar aberta ao público do próximo dia 20 de abril até 18 de julho.