Ter uma cerveja na mão (ou várias, para se ser mais honesto) enquanto passamos uma tarde de sol com amigos é uma coisa tão banal como levantarmo-nos todos os dias de manhã para ir trabalhar.
A produção de cerveja a nível global tornou-se um processo tão massificado que, habitualmente, ninguém pára para pensar como é feita e como chega até nós de uma forma tão rápida.
A verdade é que, nos velhos tempos, o processo para conseguir uma simples cerveja era um ato tão imprevisível que, muitas vezes, o resultado era simples: uma cerveja intragável e impossível de beber.
Este fenómeno, conhecido por “doença da cerveja”, mudou completamente quando, em 1883, o Laboratório de Pesquisa da Carlsberg descobriu uma espécie de levedura pura que permitiu produzir cerveja de qualidade a partir de qualquer tipo de fermentação.
A descoberta revolucionária desta levedura, entretanto batizada pela empresa dinamarquesa de Saccharomyces Carlsbergensis, foi generosamente cedida a outros fabricantes de cerveja e marcou uma nova etapa na indústria.
“Sem esta levedura, não poderíamos ter o tipo de cerveja que atualmente representa 90% do mercado a nível mundial”, explica o historiador de cerveja britânico Martyn Cornell.
Recentemente, investigadores do laboratório da cervejeira dinamarquesa Carlsberg descobriram, nas antigas caves da empresa em Copenhaga, uma das primeiras garrafas feitas a partir da levedura original de 1883.
Através daquilo a que chamam de técnicas ao estilo “Jurassic Park” – e depois de um ano de intensa pesquisa – a equipa conseguiu extrair células vivas da levedura dessa garrafa.
“Ninguém acreditava que fosse possível e toda a gente ficou surpreendida quando finalmente conseguimos isolar as células vivas presentes nessa garrafa tão antiga”, explica Erik Lund, diretor de produção do laboratório.
Com a oportunidade de recriar aquela que é considerada a primeira Lager de qualidade da história, a equipa uniu todos os esforços para sair bem sucedida.
Além de usar a amostra da levedura revolucionária, a receita original foi seguida à risca, assim como todos os ingredientes e técnicas usados naquela década.
“O nosso laboratório é conhecido por algumas das invenções mais extraordinárias do século passado, desde o método do professor Emil Christian Hansen em purificar a levedura à invenção da escala do pH, passando pelo conceito das estruturas da proteína e pela caracterização de enzimas”, afirma Flemming Besenbacher, director da Fundação Carlsberg e membro do Conselho do Laboratório de Pesquisa da cervejeira dinamarquesa.
“O Laboratório de Pesquisa da Carlsberg continua a ser a jóia da coroa na caixa de jóias da empresa, e esta cerveja foi produzida em honra da história de desenvolvimento e pesquisa deste laboratório”, remata o professor, numa altura em que o laboratório completa o seu 140.º aniversário.
“Ter a oportunidade de entrar nos arquivos da Carlsberg e poder recriar esta cerveja é muito entusiasmante, mal posso esperar para a provar”, afirma Steve Hindy, co-fundador da Brooklyn Brewery e ex-presidente da American Brewers Association.