Tozé Santos e Sá

Advogado

Vivas à rainha!

Era uma vez um reino onde vivia uma personagem que há falta do bobo da corte animava as hostes. Não tinha nada para contar, a não ser quando casava e descasava, pavoneando-se à espera de ser fotografada para manter a fama de socialite.

Precisava de aparecer, porque não tendo nada para dar, precisava do corpo para se deslocar às festas. Elevada à posição de rainha sem trabalho, ansiava por um cavaleiro que bancasse as contas do reino.

Como qualquer rainha que se preze, gostava do luxo, até que arranjou um rei que foi presenteado com uma pulseira electrónica, e como gostavam tanto de jóias o acessório virou Fashion, perfeitamente dentro das tendências de moda.

Tal como nas histórias de encantar, esta rainha enamorou-se e casou-se à velocidade da luz, amor à primeira vista, destinados à nascença, embora a rainha não fosse nenhuma jovem inexperiente. Mas o amor tem destas coisas.

Talvez por isso não chegasse a ter tempo para verificar de onde vinha a fortuna do rei consorte, aquela que lhes proporcionava as viagens e luxos de que tanto gostavam, mesmo tendo este que se ausentar de casa para ir responder a acusações injustas que a justiça do seu e de outros reinos lhe imputavam.

Nunca ninguém ousou, – porque a máquina de propaganda existia nesse reino – de acusar a rainha de saber de tudo e de até de ter contribuído para enganar o seu povo. Essa gente inferior que tem obrigação de pagar o dízimo para os luxos dos seus reis, pouco se manifestava.

Um dia, surgiram problemas com o marido da rainha… Mas claro que os papéis que apareceram escritos e carimbados foram obra do Deus do Ilusionismo, e as condenações e ordens de prisão eram aberrações do Deus da Justiça. Mesmo quando o rei consorte se dizia detentor de vários cursos sem os ter, sabia-se que era apenas um mero lapso comum ao Deus do Estudo.

Para completar o ramalhete os assessores, também com vasta experiencia no ramo, apareceram imediatamente para negar o inegável e ensinar os ofícios dos feiticeiros. Estava tudo bem, o importante era manter a normalidade.

E foi o que aconteceu. Naturalmente que a realeza irá ter sempre regras diferentes da dos comuns dos mortais, disso, não restava dúvidas naquele reino. Não trabalhando, é legítimo o recurso às posses de outros. Todos iriam compreender.

Nada estava perdido, e como o show must go on, estava ainda o rei a ver o sol aos quadradinhos, já a rainha se pavoneava no reino, com o sorriso de sempre.

Vou ali, ver, reinar e tirar um apontamento… Até terça!