Mudanças de personalidade ou de comportamento que já duram meses podem ser um sinal prematuro de demência. Baseado nessa conclusão, no passado domingo, 24, durante a Conferência Internacional da Associação de Alzheimer, realizada em Toronto, no Canadá, um grupo de neuropsiquiatras e especialistas em Alzheimer propôs a criação de um novo critério de diagnóstico para a doença.
De acordo com os especialistas, a ideia é reconhecer e medir mudanças bruscas e duradouras de humor e comportamento, que podem preceder os problemas de memória e pensamento característicos da demência. Segundo eles, esses sintomas muitas vezes são deixados de lado pelos médicos. A nova proposta de diagnóstico consiste em uma lista de 38 perguntas que podem ser usadas para identificar pessoas com maior risco de desenvolver Alzheimer.
Sabendo que esta é uma doença progressiva em que a perda de memória é uma característica comum da enfermidade, mas sintomas como ansiedade, confusão e desorientação também podem ser facilmente identificados por membros da família.
“Esta nova proposta ajuda a identificar um novo estágio clínico da doença e tem o potencial para representar uma mudança de paradigma no teste tradicional de neuro degeneração. Deixa de ter um único foco na memória para englobar também o comportamento.”, disse Maria C. Carrillo, chefe oficial de ciências da Associação de Alzheimer.
Baseado no diagnóstico do comprometimento comportamental leve (MBI, na sigla em inglês), o check-list tem como objetivo analisar cinco categorias de sintomas comportamentais, que incluem apatia, ansiedade em relação a eventos quotidianos, adequação social, perda do controle sobre os impulsos e falta de interesse pela comida. Entre os questionamentos, estão perguntas como: “a pessoa se tornou agitada, agressiva, irritável ou temperamental?”, “possui crenças irrealistas sobre seu poder, riqueza ou habilidades?” e “não se importa com mais nada?”.
Segundo Zahinoor Ismail, neuropsiquiatra da Universidade de Calgary, no Canadá e membro do grupo que propôs o novo diagnóstico, já existem estudos e relatos que sugerem que mudanças emocionais e comportamentais são sintomas indicativos do processo de demência. Ele cita como exemplo o caso de um senhor de 68 anos que, de repente, começou a usar cocaína. Essa mudança de comportamento antecedeu o surgimento de problemas de memória e, mais tarde, o desenvolvimento da demência.
“O que quer que esteja corroendo a memória e as habilidades de pensamento no processo de demência também pode afetar os sistemas de regulação emocional e auto-controle do cérebro. Pacientes com Alzheimer que apresentaram esses sintomas pioraram muito ao longo do tempo.”, disse Ismail ao jornal americano The New York Times.
Ainda segundo o especialista, autopsias cerebrais mostraram que esses pacientes tinham mais danos cerebrais do que aqueles sem os sintomas de personalidade. “Para ser classificado como MBI, o sintoma precisa ter duração mínima de seis meses e não ser apenas um desvio no comportamento, mas uma mudança fundamental”, afirma.