Por Dantas Rodrigues, socio-gerente da Dantas Rodrigues & Associados
Eminentemente sazonal, é durante os meses de Verão que o ciclismo desportivo enche de alegria e cor as estradas da Europa e, em particular, as de França, Itália, Espanha e Portugal, países que, respetivamente contam com as voltas mais antigas e prestigiadas do Velho Continente.
É verdade que as voltas à Bélgica e à Alemanha nasceram bem antes da nossa, cujas primeiras pedaladas datam de 1927, mas também não é menos verdade que o modelo que nos serviu de inspiração foi o do já então famosíssimo «Tour» francês, criado em 1903, precisamente o mesmo que já antes havia inspirado o «Giro» italiano, em 1909, e que, por sua vez, viria a inspirar, mais concretamente em 1935, a «Vuelta» a Espanha.
Independentemente da duração das provas e de acomodações geográficas pontuais, trata-se de um modelo que inclui sempre etapas de estrada plana, etapas de colina, etapas de montanha, etapas de alta montanha e contra- relógios (antigamente terminava com uma série de voltas num velódromo), tal como foi idealizado, o dito modelo, repito, pelos jornalistas desportivos franceses Henri Desgrange e Géo Lefèvre, ambos do L’Auto. Em Portugal também a idealização e concretização da sua «Volta» se ficou a dever a um jornalista desportivo, de nome Raul Oliveira, do periódico Os Sports, em colaboração com matutino Diário de Notícias.
Entre os grandes desportos modernos, um dos mais antigos e o único que, pelas suas origens populares, senão mesmo proletárias, não proveio, ao contrário dos muito aristocráticos futebol, rugby e cricket, dos colégios ou das universidades vitorianas do Reino Unido da Grã-Bretanha, Escócia e Irlanda do Norte.
E como falar de ciclismo sem recordar o nome de Joaquim Agostinho, morto por causa de uma desastrada queda de bicicleta, agravada pelo encadeamento de amadorismos e incúrias que se lhe seguiu, a 10 de Maio de 1984. Se o facto de ter vencido três «Voltas» portuguesas (1970, 1971 e 1972) bastava para o distinguir entre os seus pares, um segundo lugar na «Vuelta» (1974) e dois terceiros lugares no «Tour» (1978 e 1979), entre outras honrosíssimas distinções, conferiram-lhe para todo o sempre uma posição da maior relevância na gesta do ciclismo mundial.
Por tudo o que Joaquim Agostinho conquistou e, também, pelo seu dramático desaparecimento, não será exagero afirmar que o ciclismo no nosso país se divide em um antes e um após a sua passagem pelo mundo. A 78.ª Volta a Portugal é o verdadeiro hino ao desporto.