“Foi uma surpresa. Entre mais de 100 países, com tanta gente boa, a última coisa que esperas é receber um prémio”, conta o jovem de 25 anos, natural do Porto.
Licenciado em Línguas e Culturas Orientais, pela Universidade do Minho, Samuel Gomes completou no ano passado um mestrado em Estudos de Teatro, na Faculdade de Letras da Universidade do Porto.
A edição deste ano do ‘Chinese Bridge’, que decorre em Hunan, província do centro da China, conta com a participação de 146 estudantes de chinês mandarim, oriundos de 108 países.
Samuel, que estuda atualmente no Instituto Confúcio (IC) da Universidade do Minho, é o único concorrente de Portugal.
A declamação do poema Qiang Jinjiu (“Trazei o Vinho”, em chinês), de Li Bai (701-762 D.C.), um dos maiores poetas da China Antiga, valeu-lhe a distinção.
O interesse de Samuel pelo oriente vem “desde muito pequeno”, quando “adorava ouvir música tradicional chinesa” e se deliciava “com fotos de templos chineses”, que chegava a desenhar no infantário.
Em 2009, optou por estudar chinês, ainda a China não era “moda” em Portugal e “os estereótipos sobre o país entre os portugueses eram bastante acentuados”.
“Existia uma espécie de complexo em aprender mandarim”, recorda.
Entretanto, o país asiático tornou-se um dos principais investidores em Portugal, comprando participações em grandes empresas das áreas da energia, seguros, saúde e banca.
“Hoje, todos os portugueses falam da China”, diz Samuel.
O IC, organismo patrocinado por Pequim para assegurar o ensino de chinês, está já implantado em quatro universidades portuguesas – Aveiro, Coimbra, Lisboa e Minho.
Em 2011, o Instituto Politécnico de Leiria criou, em colaboração com o Instituto Politécnico de Macau (IPM), a primeira licenciatura em Portugal de Tradução e Interpretação Português/Chinês – Chinês/Português.
Desde o ano passado, o ensino de mandarim foi também introduzido em algumas escolas portuguesas, ao nível do secundário e do terceiro ciclo, como alternativa de língua estrangeira.
Em São João da Madeira, no norte de Portugal, aulas de mandarim estão, desde 2012, disponíveis para alunos dos 3.º, 4.º e 5.º ano do ensino básico.
O chinês mandarim é a língua mais falada do mundo e o único idioma oficial da República Popular da China, país com cerca de 1.375 milhões de habitantes – cerca de 18% da população mundial – e a segunda maior economia do planeta.
Para Samuel, trata-se de “uma língua justa, que expõe nitidamente o grau de esforço de quem a estuda”.
“Quem a quiser estudar seriamente não pode apenas reter a consciência da dimensão da sua diferença. Tem, sobretudo, de a aceitar e sentir”, realça.
Mais do que o seu sistema de escrita, um dos mais antigos do mundo e constituído por milhares de carateres, é a existência de tons que torna o chinês numa “língua especial”, defende.
Em mandarim, existem quatro tons e mais um quinto tom neutro. A mesma palavra pode ter vários significados, dependendo do tom utilizado.
‘Chi’, por exemplo, quer dizer comer (chi), estar atrasado (chí), régua (chi) ou repreender (chì).
Assimilar estes processos exige anos de dedicação: “Atualmente, estudo cerca de 12 horas por dia. Estudo vocabulário, pratico dicção, vejo televisão chinesa ou faço traduções”, descreve Samuel.
Ainda assim, “tudo isto não chega para se atingirem resultados mais elevados”, admite.
Segundo Samuel, para obter um bom domínio da língua chinesa é indispensável imergir na sociedade onde esta é falada.
“Preciso da China à minha volta 24 horas por dia”, conclui.