“Eu vim p’ra ficar”. Esta é a frase mais emblemática de Telma Monteiro. A judoca venceu a medalha de bronze na categoria dos -57 kg nesta edição dos Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro. Foi a sua primeira conquista olímpica, depois de ter falhado os objetivos nos últimos três Jogos.
A atleta do SL Benfica é a orgulhosa dona de uma medalha olímpica, 11 medalhas em Europeus e cinco em Mundiais. Um currículo impressionante para quem tem apenas 30 anos. O sonho, diz, tornou-se realidade.
“Quando comecei a fazer judo, não tinha muita noção de nada. Do quanto teria de treinar, do quão longe podia chegar. Depois começou a crescer em mim uma paixão enorme por este desporto, a competitividade, que sempre tive, fazia o meu coração bater cada vez mais forte, fazia a vontade de ganhar ser cada vez maior. Naturalmente começou a fazer parte do meu ADN, o orgulho em representar o meu país, o nosso país, Portugal”, disse momentos depois da vitória olímpica.
Telma era a cara da felicidade. Percebe-se porquê. Em Atenas, no ano de 2004, ficou em 12º lugar. Ainda competia na categoria dos -52 kg. Em Pequim, na China, foi a 9ª melhor. Londres foi a sua pior prestação nas Olimpíadas: 17º lugar, em 17 participantes, mas já na categoria dos -57 kg.
O percurso foi duro, como ela própria reconhece. “Eu tive receio, tive dúvidas, não sabia o que ia acontecer. Terminar a carreira sem a “tal” medalha, era uma possibilidade. O que não era uma possibilidade era desistir de trabalhar para que ela fosse uma realidade”, comentou Telma.
“Trabalhei, não desisti, acreditei, tive receio, fui com receio mesmo, fui também com coragem. Consegui. Primeira medalha olímpica do judo feminino português. História pelo meu país. O meu país… isso era o mais importante de tudo. Não era eu, éramos nós, ali, naquele tapete da Arena Carioca 2. O que é que eu sinto? Alegria que não cabe. Se eu consegui, TU também consegues. Não desistam de lutar por aquilo em que acreditam. Obrigada do fundo do coração a todos os que trabalharam comigo para esta conquista e obrigada pelo carinho de todos. Valeu a pena lutar. Valerá sempre.”
O texto é de uma verdadeira campeã. Mas como começou a carreira de Telma? A judoca vai receber 17 500 euros do Governo português pela medalha de bronze, mas a vida dela nem sempre foi desafogada.
Telma Alexandre Pinto Monteiro nasceu a 27 de dezembro de 1985 e tem três irmãs e um irmão (adotado). Cresceu num bairro social em Almada, onde aprendeu tudo através da experiência de viver na rua. Por isso preocupa-se com a maneira como muitas crianças podem encarar o futuro, tal como confessou na entrevista ao programa ‘Alta Definição’ da SIC, exibido a 23 de julho.
“Onde não há nada, tudo é muito”, afirmou a judoca. Em pequena queria ser professora de Português e depois jogadora de futebol. Acabou no judo.
Em 2008 teve de lidar com a morte do seu treinador António Matias, de 43 anos. O selecionador nacional de judo feminino da altura tinha acabado de treinar Telma e a irmã desta, Ana, quando sentiu dores de cabeça e dirigiu-se aos balneários. Foi encontrado já sem vida. A atleta foi uma das primeiras a ver o corpo.
“O chão escapou naquele momento”, desabafou na entrevista. “Não há nada que não possamos ultrapassar. E ele está sempre presente, nas vitórias e nas derrotas”, confessou.
Atualmente Telma treina com o japonês Go Tsunoda. Foi ele que a ajudou a preparar-se para estes jogos. Uma preparação difícil, já que sofreu uma lesão em fevereiro e teve de ser operada ao joelho esquerdo.
O sonho quase escapou outra vez. Mas Telma não é de desistir. Prova disso também é a sua entrega ao desporto. Tirou a licenciatura em Educação Física, está a prestes a terminar uma pós-graduação em Gestão, Marketing e Desporto e ainda sonha com o mestrado. Tudo enquanto continua a competir ao mais alto nível.
“A felicidade só é real quando é partilhada”, garante. Por isso, depois de uns minutos ajoelhada no tapete, saltou para as bancadas para abraçar quem a apoiou na conquista da medalha que teimava em escapar.
Tem mais de uma dezena de Medalhas de Ouro conquistadas em Taças do Mundo, Taças da Europa, Grand Prix e Grand Slam. Em 2012 foi a escolha óbvia para porta-estandarte na cerimónia de abertura dos Jogos de Londres. Este ano encerrou as Olimpíadas do Rio de Janeiro.
“É com enorme orgulho e grande felicidade que serei Porta-Estandarte na Cerimónia de Encerramento dos Jogos Olímpicos do Rio 2016. É um orgulho representar Portugal e esta comitiva única, de atletas, treinadores e dirigentes. Obrigada”, anunciou no domingo, dia 21 de agosto.
Foi um fim em grande: a primeira medalha e a levar a bandeira de Portugal bem longe e lá no alto.