Diz-me que guardas um pouco de mim sempre que te fores embora, sempre que tiveres de partir ou de seguir viagem.
Diz-me que me guardas na algibeira do coração como um lenço bordado à mão.
Leva-me contigo na leve aragem. Leva-me contigo mesmo que eu não queira. Guarda-me as palavras, o cheiro, o gosto. Sente-me profunda, quando olhas para mim.
Diz-me que guardas um pouco de mim na polpa dos dedos.
Diz-mo em voz alta, grita-o ao mundo ou di-lo baixinho: tudo o que sabíamos sobre o mundo e de que nos esquecemos.
Diz-me que guardas a minha voz, as palavras da noite segredadas na pele no meio do silêncio.
Transporta-me pela cidade até ao fundo do coração.
Guarda-me como um tesouro e semeia-me pelas estradas para que eu possa renascer em cada amanhecer.
Saboreia-me em cada aresta das esquinas por onde passares.
E deixa-me escorregar pelo teu pescoço, deslizar pelo teu ventre, até ser tua e tu seres meu.