Um dia depois da sexta votação, em que ganhou com 13 votos a favor, duas abstenções (que, segundo rumores diplomáticos, terão sido da Rússia e da Nova Zelândia) e nenhum veto, António Guterres foi aclamado, esta quinta-feira, Secretário-Geral da ONU.
Hoje, dia 6, recebeu o voto por unanimidade do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Esta resolução passa depois à Assembleia-Geral, onde terá de ser aprovada por maioria simples.
Apesar de ser uma votação, é uma mera formalidade, uma vez que é tradição que os candidatos que tenham sido aprovados com o mínimo de 9 votos favoráveis e nenhum veto sejam então ratificados pela Assembleia-Geral das Nações Unidas, composta por todos os países membros.
Veja aqui o momento da ovação a Guterres depois do voto unânime:
#UNSC adopts by acclamation the recommendation of Antonio Guterres as #NextSG ! pic.twitter.com/yhGYg4oWzB
— La France à l'ONU (@franceonu) 6 de outubro de 2016
Relembre-se que o ex-Primeiro-Ministro português foi o único dos 10 candidatos finalistas que não registou nenhum voto de desencorajamento.
Guterres assistiu à votação no Palácio das Necessidades, em Lisboa, que é a sede do Ministério dos Negócios Estrangeiros. E vai falar ao país numa conferência de imprensa às 17h00.
Homem de fé e socialista
Pode parecer algo paradoxal, mas António Guterres é conhecido por ser um homem de fé, católico e socialista. Nada que o deixasse com dilemas ideológicos. “O PS é o partido que me oferece mais possibilidades de pôr em prática as minhas ideias sociais”, disse.
Passou a infância entre Lisboa e Donas, pequena aldeia do concelho do Fundão, distrito de Castelo Branco, que é a terra natal da mãe. Em criança era acólito na igreja local e fazia, com frequência, as leituras na missa.
Não seguiu a vida eclesiástica, mas sim a engenharia. Guterres sempre foi um aluno brilhante e acabou a licenciatura em Engenharia Eletrotécnica, no Instituto Superior Técnico, em Lisboa, com uma média de 19 valores.
É nessa altura que António Guterres conhece o atual Presidente da República. “É a figura mais brilhante da minha geração”, disse Marcelo Rebelo de Sousa, já em campanha pelo amigo para as Nações Unidas.
Foi Primeiro-Ministro (com um governo minoritário) de 1995 a 2002, ano em que se demite devido à derrota significativa do PS nas autárquicas de dezembro de 2001.
Durante a primeira legislatura enviuvou de Luísa Guterres, amor da sua vida, companheira de 25 anos e mãe dos seus filhos Pedro e Mariana, de 39 e 30 anos, respetivamente. Guterres tinha 50 anos. Em 2001 casou com Catarina Vaz Pinto.
Fundou a DECO, em parceria com Francisco da Mota Veiga, e foi Alto Comissário das Nações Unidas para os Refugiados entre 2005 e 31 de dezembro de 2015, tendo viajado por todo o mundo, escutado tudo e todos e apelado à paz.
Aos 67 anos vai ser o sucessor de Ban Ki-moon no cargo mais importante entre as instituições internacionais, numa altura em que se apostava na vitória de uma mulher da Europa de Leste. Mas o percurso e as características de Guterres tornaram-no o primeiro português a consegui-lo.