Desistimo-nos.
Desfizemos a nossa estátua em pó
Por entres os dedos de cristal,
Em que o tempo escorre na ampulheta dos dias sem pressa, sem dó.
Derrotamo-nos.
Desenlaçámos o final.
Misturámo-nos na areia do tempo, presos entre paredes de sal.
Desamámo-nos.
Ficamos parados, embasbacados.
Amarrotados,
Esvaziámos o coração
À procura de paz.
Conscientes desse amor que se desfaz…
Ah, se ela pudesse chegar em suaves gotículas…
Soltávamos o grito, clamávamos por Orfeu.
Gritávamos alto em silêncio:
A poesia não morreu,
Não é fogo que um dia ardeu;
É alento, teu e meu,
Nos dias duros do porvir.
Talvez nos conseguíssemos ouvir nos gritos que vociferámos na partida, ao despedir.
Eu sei, fomos além do tempo e iludimos os sentidos com danças ondulantes.
Eu sei, prendemos os ponteiros do relógio,
Mas os sabores do tempo perderam-se!
Onde estás, pássaro? Pia. Pia.
Estamos em nós.
Se nos ouvirmos no meio do silêncio, descobrir-nos-emos.
Recomecemo-nos na construção de uma nova estátua,
Onde a alquimia surge nos instantes do coração
E dança com o vento em sonhos
Num voo celestial…
Em uníssono com a vitória dos sentidos,
Desfilando cartazes com poesia,
Num instinto sossegado prenhe de maresia.
A esperança?
Essa escorre na ampulheta da fantasia ao som da lira,
Soprando velas, levantando âncoras, largando o coração nas asas de uma gaivota.
Deixemos que o mar leve os itinerários que decalcámos na areia.
Talvez, de novo, no céu, com cintilantes purpurinas, a palavra AMOR.
Sim! Por nós,
Porque tu e eu somos pétalas que se desfazem em suave bem-querer,
Num céu azul de nuvens fofas e brilhantes estrelas.
Nesse instante, conseguiremos vê-las
Tu: em tudo o que vês. Eu: em tudo o que vejo,
Para todos os dias construirmos uma parte do nosso sonho.
Só ele nos conduzirá à felicidade,
Numa réstia de esperança que fará renascer o desejo.
Nós, os alquimistas, os jardineiros de almas puras!
Pássaros viajantes perdidos nas nossas loucuras.
Lúcia Vaz Pedro (poema a várias mãos através do Facebook: Ana Araújo; Andreia Rocha; Ângela Carvalho; Fernanda Casaca; Gil Neves; Isabel Graça; João Paredes João Pires; Jorge Humberto Dias; Manuel Per; Maria José Moura Castro; Marlene Chaves; Susana Nogueira; Teresa Freitas Castro; Teresa Neves; Teresa Vivalma).