Uma nova família de antidepressivos com efeitos terapêuticos diferentes dos já existentes está a ser desenvolvida por um consórcio internacional liderado por investigadores do Instituto de Investigação e Inovação da Universidade do Porto (i3S).
“O composto que é o ponto de partida para o desenvolvimento dos novos antidepressivos”, denominado ‘tacrolimus’, “encontra-se no mercado como medicamento genérico e sob várias formas farmacêuticas”, sublinhou a coordenadora da equipa portuguesa, Marta Mendes.
Na prática clínica, este composto é utilizado como “imunossupressor em pacientes submetidos a transplante (particularmente de rim e fígado) para controlar a resposta imunológica e evitar a rejeição do órgão transplantado”.
“Os mecanismos biológicos subjacentes aos diferentes quadros de depressão não estão completamente elucidados”, indicou, acrescentando que os trabalhos existentes na área sugerem que se trata “de uma cascata de processos de sinalização que, em última instância, provocam um desequilíbrio nos níveis das moléculas (neurotransmissores) responsáveis pela transmissão de informação entre as células nervosas (neurónios)”.
De acordo com a investigadora, “a maioria dos antidepressivos existentes atuam sobretudo nos últimos passos desta cascata, de forma a normalizar os níveis dos neurotransmissores e assim aliviar os sintomas de depressão”.
Com base em dados experimentais, “é expectável” que os novos compostos venham a atuar “em alvos (proteínas) a montante nesta cascada e que têm sido associados a certos quadros de ansiedade e depressão. Em teoria, a atuação mais cedo na cascada de sinalização poderá tornar estes medicamentos mais eficientes”, referiu ainda.
O consórcio internacional Tacrodrugs, constituído por sete de Portugal, de Espanha, da Alemanha e da Noruega, foi um dos vencedores do sétimo concurso ERA-IB-2, uma rede financiada ao abrigo do 7.º Programa Quadro, que procura identificar as melhores práticas como base para a cooperação necessária na implementação do Espaço Europeu de Investigação (ERA).
A equipa do i3S, que conta com cinco investigadores, pretende “otimizar a produção das próprias bactérias, para que assim seja possível produzir em maior quantidade e tornar esse composto rentável para a indústria farmacêutica”.
Este trabalho vai ser desenvolvido através da utilização de técnicas de biologia sintética para a manipulação genética de bactérias produtoras de compostos naturais.
Marta Mendes tem feito o seu percurso na área da microbiologia e no estudo da biossíntese de compostos com interesse clínico e biotecnológico por parte de microrganismos (bactérias).
Segundo a coordenadora, “muitos dos princípios ativos dos medicamentos que se podem encontrar nas farmácias, em particular quando se fala de antibióticos, têm origem e/ou são produzidos por bactérias”.
“O meu trabalho tem sido focado no estudo das bactérias e como estas produzem os compostos, bem como no desenvolvimento de estratégias para a produção de novos compostos que, no futuro, podem vir a ter interesse biotecnológico”.
O projeto desenvolvido pelo consórcio internacional Tacrodrugs inicia em novembro e tem a duração de três anos, tendo sido financiado em cerca de dois milhões de euros.