Trata-se de um cimento desenvolvido em laboratório que se revela muito eficaz na regeneração de vértebras fraturadas devido, por exemplo, à osteoporose ou a acidentes. O material combina, pela primeira vez, estrôncio, manganês e um pouco de açúcar aos habituais ingredientes, e foi descoberto por investigadores da Universidade de Aveiro (UA).
A equipa conseguiu provar assim que a mistura feita não só melhorou muito o desempenho biológico do cimento, como catapultou as respetivas propriedades mecânicas.
“A presença combinada de manganês e de estrôncio e a utilização de sucrose – um dos tipos de açúcar existentes, por exemplo, em quase toda a alimentação humana – neste tipo de cimentos constituem duas novidades que tornam este trabalho original”, explica Paula Torres, a investigadora do Departamento de Engenharia de Materiais e Cerâmica (DEMaC) que desenvolveu este material inovador.
Combinados em quantidades q.b., o manganês, o estrôncio e o açúcar, explica Paula Torres, “melhoram muito o desempenho biológico, tais como a adesão e crescimento de células do osso na superfície do cimento”, explica a investigadora.
Além disso, “aumentam o tempo de manuseamento, promovendo uma excelente injectabilidade e uma melhoria significativa das propriedades mecânicas”, acrescenta.
Estes fatores tornam o cimento desenvolvido na UA “muito promissor para regeneração óssea e engenharia de tecidos e em particular na reparação de vértebras fraturadas”, disse a cientista ao jornal online da universidade.
Por isso o cimento ósseo tem de ter a viscosidade certa para poder ser manuseado e injetado através da agulha da seringa, uma velocidade de endurecimento adequada ao procedimento cirúrgico, uma resistência mecânica comparável à do osso e potenciar o rápido crescimento do novo osso. O que não acontece nos atuais cimentos ósseos.
Paula Torres começou há cinco anos o seu Doutoramento em Ciência e Engenharia de Materiais com o objetivo de abordar a vertebroplastia (procedimento médico que tem por objetivo tratar fraturas na coluna vertebral através da injeção de cimento ósseo no interior das vértebras fraturadas).
O trabalho de Doutoramento foi conduzido sob a orientação científica de José M.F. Ferreira e Susana Olhero, ambos do DEMaC e do CICECO-Instituto de Materiais de Aveiro da UA. O trabalho contou ainda com a colaboração de Odete Cruz e Sandra Vieira (Departamento de Ciências Médicas e iBiMED), António Calado (Departamento de Biologia e GeoBioTec), Sónia Gouveia (IEETA e CIDMA) e de outras instituições nacionais, como é o caso de João Abrantes (CICECO, UIDM/ESTG do Instituto politécnico de Viana do Castelo) e da Robert Mathys Stiftung Foundation (Suíça), com os investigadores Marc Bohner e Nicola Döbelin.
A próxima fase, aponta a investigadora, é levar o cimento para testes in vivo.