Tem 38 anos, 21 dos quais dedicados à moda. Com o passar do tempo tornou-se um nome incontornável do estilo nacional. O melhor na sua profissão. Giro, gentil e sem “papas na língua”, o personal stylist falou com a Move Notícias sobre os tempos em que brilhou nas passerelles nacionais, da sua luta para continuar “vivo” numa indústria feroz e das saudades que tem “da glória de outros tempos”.
Pedro, conta já com quantas edições da Moda Lisboa no seu currículo?
Venho desde a numero um. Acompanhei o Crescimento da Moda Lisboa e a Moda Lisboa também tem acompanhado a minha transformação dentro da área da moda. Primeiro como manequim, depois a ajudar nos bastidores, como aderecista, e finalmente a escolher algumas roupas para editoriais de moda enquanto stylist. É um casamento que tem resultado.
Como modelo, qual foi o seu primeiro desfile? Que recordações tem desses tempos?
Ana Salazar Homem. Lembro-me acima de tudo de não conhecer o trabalho de alguns criadores e de ficar fã de alguns que hoje em dia já não fazem homem como é o caso da Ana Salazar e que era brilhante a fazê-lo. Tal como o Luís Buchinho entre outros.
Mas há momentos muito engraçados: desde quedas, a situações de improviso… Acho sinceramente que isso é o mais engraçado em moda. É no improviso e na criatividade que está toda a magia.
Como referência na moda em Portugal, é uma pessoa que segue tendências?
Posso dizer que sim. Profissionalmente sigo as tendências, a nível pessoal não. Ou seja, profissionalmente preciso de o fazer porque no trabalho que desenvolvo – editoriais, produções, campanhas, styling – faz com que deva estar atualizado.
Mas para mim não! Sou mais de peças neutras, de cores sólidas. Adoro básicos: a t-shirt ou a camisa branca, os jeans, os ténis ou os sapatos pretos. Depois sou muito de brincar com os acessórios e não me levo muito a sério. É aí que me divirto.
Como define o seu estilo?
Muito eclético. Acho que às vezes faço parecer que há uma explosão de tudo. A minha coerência no meu estilo é não ser coerente. Ou seja, é conforme o meu mood.
A moda para mim é comunicação e uso a minha imagem para passar uma mensagem, por isso depende sempre da mensagem que quero passar.
Não tem medo de arriscar portanto?
Nenhum! Não tenho medo de sair da minha zona de conforto. Como formador é isso que tento passar aos meus alunos: devem testar sempre.
A moda não é uma ciência exata portanto só testando é que conseguimos chegar a uma conclusão. As pessoas têm de experimentar.
Tem algum estilista de eleição?
Filipe Faísca, desde sempre. Foi meu professor e sempre gostei muito do sentido estético dele. É dos designers de moda que sempre pensou para pessoas reais e por isso tem de ser aplaudido.
Há alguns criadores que criam e morrem na passerelle, ao fim de duas coleções já ninguém sabe quem são. E a verdade é que o Filipe tem solidificado a sua marca e tem trabalhado sempre para pessoas diferentes, com diferentes tipos de corpo, de cor, para diferentes sexos. Por isso é uma referência.
Mas posso enumerar outros. No universo masculino o Nuno Gama ou o Miguel Vieira, mas estou sempre atento a novos talentos que estão a dar cartas no mercado nacional.
O que é que ainda não viu nas passerelles nacionais e que gostasse de ver?
Gostava de ver o regresso de muitas manequins. Pontualmente vê-se uma ou outra, mas gostava mesmo que numa edição se junta-se um grupo da “velha guarda”, com aqueles que sabiam desfilar, com aqueles que realmente vestiam a roupa.
Hoje em dia os manequins vestem o seu próprio ego e isso, na maioria das vez, entra em conflito com a roupa do designer. O manequim é um cabide, ponto. Não tem vírgulas.
Muitas vezes acontece que o manequim já acha que é uma estrela. Antigamente os manequins divertiam-se a fazer moda. Tinham amor à arte. E hoje fazem-no porque está na moda!
As suas palavras refletem uma “fase saudosista”?
Não. É sobretudo uma “fase consciente”. Tenho de lidar com o que se passa agora, independentemente de ter gostado mais de outras alturas. Mas é bom ter saudades e eu tenho… Tenho saudades de alguns designers de moda como o José Carlos, tenho saudades de pessoas que trabalharam na área, mas principalmente tenho saudades da glória e da verdade que se vivia ao nível de moda nos anos 80/90.
Mas temos de saber navegar se não vamos ao fundo. E o que me tem caraterizado é o facto de tentar ir sempre com a maré. Não vale a pensa comparar o que é incomparável!
Este ano não desfilou, sente que esse capítulo está terminado?
Sim, sinto. Eu desfilei no ano passado para o Filipe Faísca porque para além de gostar muito dele enquanto designer, ele é meu amigo e aquilo acabou por ser um momento de amizade mais do que de trabalho. Foi uma graça.
Mas efetivamente não vou desfilar tão brevemente. Mas não sei o dia de amanhã.
Um dia disseram-me que “um manequim quando o é uma vez é-o para sempre”, eu não sei se é bem assim, mas acima de tudo nós nunca podemos fechar as portas neste meio e temos de ver as coisas de forma versátil e transversal e este regresso dos manequins já grisalhos e carecas como eu e alguns de 40 e 50 anos, que continuam com muita “pinta”, é algo que devia andar lado a lado com as caras mais novas porque acho que devíamos trabalhar para as pessoas. Devia haver uma moda mais real, o homem e a mulher de hoje não tem 14 ou 15 anos nem aquele peso!
Como “homem da moda” nunca pensou apostar no design?
Não. Eu já tive algumas parcerias com marcas e fui fazendo experiências, mas sempre numa componente complementar, ou seja, agarrar nas peças e dar-lhes vida. O design de moda é engraçado mas eu respeito demasiado os designers nacionais para me meter nesse ramo. É um respeito que vai além das pessoas. Respeito sobretudo a batalha que travam para se manterem “vivos” no mercado e na indústria.
O que eu faço é o que sei fazer! Não digo que não poderia criar, mas sempre com uma visão de stylist. Aliás, o stylling é “o tempero da moda”, somos nós que damos vida às peças.
E daqui para a frente, novos projetos?
Continuo com a minha rubrica na SIC Mulher, que já tem alguns anos, e embora não seja uma pessoa da televisão a verdade é que esse meio funciona como uma montra do meu trabalho. Para além disso continuo dedicado ao meu atelier – com serviço e formação – e continuo a trabalhar a imagem de algumas marcas.
Sou multifacetado dentro da área da moda. Não conseguiria ter um trabalho das nove às 18. E apesar de todas as dificuldades que encontrei ao longo destes 21 anos de trabalho eu não saberia fazer outra coisa.
Fotos: José Gageiro